quarta-feira, 3 de junho de 2015

NOVA ARMA GEOESTRATÉGICA


O mundo espantou-se quando no passado dia 27 de maio foram detidos alguns membros da FIFA à beira da sua reunião anual, acusados de corrupção.
Dizer que o mundo se espantou é força de expressão. Já ninguém se espanta com corrupções no futebol, mas o facto é que eu, que ao contrário de Sá de Miranda já não me espanto (mas ainda me envergonho), fiquei tomado de espanto ao ver esses baluartes da luta contra a corrupção, EUA e Suíça, juntarem-se para prender os prevaricadores. Depois foi um instante até que Mr. Blatter se demitisse apesar de recém eleito.
Estranha-se esta Suíça moralista, cuja obsessão pela limpeza os cega à sujidade do dinheiro que lhes entra pelos bancos e que é causa da sua prosperidade, e estranha-se os EUA preocupados com a transparência no futebol, esquecendo o basebol. À primeira vista é louvável que se combata assim a corrupção mas como com a idade me vou tornando mais cínico, penso com os meus botões que me espanto por nada.
Um dia antes destes acontecimentos um jornal americano fazia publicar as declarações do senador McCain que exigia que a FIFA substituísse o Sr. Blatter por outro presidente que revogasse a decisão de fazer o Mundial de Futebol de 2018 na Rússia. McCain é aquele senhor que há tempos exigia que os EUA fornecessem armas de topo aos “combatentes da liberdade” na Síria e que hoje tomam o nome de ISIS, ou estado islâmico. Seria hoje presidente se Obama tivesse perdido. Agora lança-se numa cruzada contra a FIFA em defesa da democrática e incorrupta Ucrânia submetida às garras da Rússia de Putin.
Perceberam agora? Nada mudou. O mundo continua sereno e tranquilo. Nem os EUA nem a Suíça vão agora pôr-se a combater a corrupção, era o que mais faltava. Podem os bancos e os detentores das grandes fortunas suspirar de alívio.
É só futebol: a nova arma da política geoestratégica americana!

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