O mundo espantou-se
quando no passado dia 27 de maio foram detidos alguns membros da FIFA à beira
da sua reunião anual, acusados de corrupção.
Dizer que o mundo se
espantou é força de expressão. Já ninguém se espanta com corrupções no futebol,
mas o facto é que eu, que ao contrário de Sá de Miranda já não me espanto (mas
ainda me envergonho), fiquei tomado de espanto ao ver esses baluartes da luta
contra a corrupção, EUA e Suíça, juntarem-se para prender os prevaricadores. Depois
foi um instante até que Mr. Blatter se demitisse apesar de recém eleito.
Estranha-se esta Suíça
moralista, cuja obsessão pela limpeza os cega à sujidade do dinheiro que lhes
entra pelos bancos e que é causa da sua prosperidade, e estranha-se os EUA
preocupados com a transparência no futebol, esquecendo o basebol. À primeira
vista é louvável que se combata assim a corrupção mas como com a idade me vou
tornando mais cínico, penso com os meus botões que me espanto por nada.
Um dia antes destes
acontecimentos um jornal americano fazia publicar as declarações do senador
McCain que exigia que a FIFA substituísse o Sr. Blatter por outro presidente
que revogasse a decisão de fazer o Mundial de Futebol de 2018 na Rússia. McCain
é aquele senhor que há tempos exigia que os EUA fornecessem armas de topo aos
“combatentes da liberdade” na Síria e que hoje tomam o nome de ISIS, ou estado
islâmico. Seria hoje presidente se Obama tivesse perdido. Agora lança-se numa
cruzada contra a FIFA em defesa da democrática e incorrupta Ucrânia submetida
às garras da Rússia de Putin.
Perceberam agora? Nada
mudou. O mundo continua sereno e tranquilo. Nem os EUA nem a Suíça vão agora
pôr-se a combater a corrupção, era o que mais faltava. Podem os bancos e os
detentores das grandes fortunas suspirar de alívio.
É só futebol: a nova
arma da política geoestratégica americana!
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