sábado, 26 de janeiro de 2019

PORQUÊ "CHEGA"?



O que se pode esperar de um partido com o triste nome de “chega”? Sinónimo de coisa pequenina só pode sair da cabeça de um homem ou de uma mulher pequenino/a. Se eu fizesse um partido chamar-lhe-ia, “MAIS”, “FARTURA”, sei lá, mas “chega”?
E o que pretende este “chega”? Encontrar o melhor modo de fazer a coesão social e cultural dentro da Nação? A melhor forma de se chegar a uma redistribuição justa da riqueza gerada pelos trabalhadores do país? A fórmula de preservar o ambiente dentro do quadro de um desenvolvimento sustentável, isto é, a forma para encontrar o justo equilíbrio entre o desenvolvimento social e o desenvolvimento económico num quadro ecológico de forma a suprir as nossas necessidades sem comprometer as das gerações futuras? Não sabemos. O que sabemos é que pretende baixar o número de deputados para 100, introduzir a prisão perpétua e capar os pedófilos. Se estes são os problemas que os fundadores do “chega” acham que o país tem é porque não conhecem o país.
100 deputados? Por que não zero? O que o “chega” pretende dizer é que os deputados não estão lá a fazer nada, então tenha a coragem de propor zero. Eu acho que estão. Tendo em conta que Portugal apesar de pequeno é um país de grandes assimetrias regionais, culturais e sociais, 100 deputados não são suficientes para refletir essas assimetrias e garantir a voz dos que em democracia se têm de ouvir: as maiorias, mas também as minorias. A constituição prevê um mínimo de 180 e um máximo de 230. Atualmente são 230. É capaz de ser muito. Por que não propuseram 180? Porque 100 obriga à revisão constitucional e assim podem manter a sua bandeira populista e demagógica à falta de ideias melhores e de coragem de clamar pelo fim da representatividade parlamentar?
Prisão perpétua. Se é para prevenir a criminalidade os factos desmentem-no. Os países que têm prisão perpétua e pena de morte são os que têm maiores índices de criminalidade. Se é para defender os cidadãos de psicopatas, a Constituição já o prevê: prisão prorrogada sempre que necessário, diz a constituição. É mais uma ideia de quem não tem ideias.
Castração química para pedófilos. A pior coisa que podemos esperar de um partido político é que se intrometa nas questões de ordem científica, à moda do que fizeram e fazem certas religiões. A pedofilia é o abuso de crianças impúberes, por isso considerada uma doença que requer tratamento. Se a castração for o tratamento que a ciência achar adequado, promova-se então o debate, mas não pode ser bandeira para partidos políticos.
O fundador do “chega” diz que as minorias étnicas têm um problema de integração, e tem razão. Mas não basta afirmá-lo, é preciso trabalhar com essas minorias, fazê-las assumir que o problema existe e que a solução só pode vir de ambos os lados e não de um só. André Ventura tem aqui razão. Mas ele foi eleito vereador num concelho onde há grandes e graves problemas na integração de minorias étnicas. Foi-lhe dado pelo voto uma excelente oportunidade para pôr em prática as ideias que não tem para a solução do problema. Uma coroa de glória para quem se diz católico e cristão, como ele, mas não. André Ventura resolveu desistir: demitiu-se e disse “chega” sem sequer ter tentado.