O que se
pode esperar de um partido com o triste nome de “chega”? Sinónimo de coisa
pequenina só pode sair da cabeça de um homem ou de uma mulher pequenino/a. Se
eu fizesse um partido chamar-lhe-ia, “MAIS”, “FARTURA”, sei lá, mas “chega”?
E o que
pretende este “chega”? Encontrar o melhor modo de fazer a coesão social e
cultural dentro da Nação? A melhor forma de se chegar a uma redistribuição
justa da riqueza gerada pelos trabalhadores do país? A fórmula de preservar o
ambiente dentro do quadro de um desenvolvimento sustentável, isto é, a forma
para encontrar o justo equilíbrio entre o desenvolvimento social e o
desenvolvimento económico num quadro ecológico de forma a suprir as nossas
necessidades sem comprometer as das gerações futuras? Não sabemos. O que
sabemos é que pretende baixar o número de deputados para 100, introduzir a
prisão perpétua e capar os pedófilos. Se estes são os problemas que os
fundadores do “chega” acham que o país tem é porque não conhecem o país.
100
deputados? Por que não zero? O que o “chega” pretende dizer é que os deputados
não estão lá a fazer nada, então tenha a coragem de propor zero. Eu acho que
estão. Tendo em conta que Portugal apesar de pequeno é um país de grandes
assimetrias regionais, culturais e sociais, 100 deputados não são suficientes
para refletir essas assimetrias e garantir a voz dos que em democracia se têm
de ouvir: as maiorias, mas também as minorias. A constituição prevê um mínimo
de 180 e um máximo de 230. Atualmente são 230. É capaz de ser muito. Por que
não propuseram 180? Porque 100 obriga à revisão constitucional e assim podem manter
a sua bandeira populista e demagógica à falta de ideias melhores e de coragem
de clamar pelo fim da representatividade parlamentar?
Prisão
perpétua. Se é para prevenir a criminalidade os factos desmentem-no. Os países
que têm prisão perpétua e pena de morte são os que têm maiores índices de
criminalidade. Se é para defender os cidadãos de psicopatas, a Constituição já
o prevê: prisão prorrogada sempre que necessário, diz a constituição. É mais
uma ideia de quem não tem ideias.
Castração
química para pedófilos. A pior coisa que podemos esperar de um partido político
é que se intrometa nas questões de ordem científica, à moda do que fizeram e fazem
certas religiões. A pedofilia é o abuso de crianças impúberes, por isso considerada
uma doença que requer tratamento. Se a castração for o tratamento que a ciência
achar adequado, promova-se então o debate, mas não pode ser bandeira para
partidos políticos.
O
fundador do “chega” diz que as minorias étnicas têm um problema de integração,
e tem razão. Mas não basta afirmá-lo, é preciso trabalhar com
essas minorias, fazê-las assumir que o problema existe e que a solução só pode
vir de ambos os lados e não de um só. André Ventura tem aqui razão. Mas ele foi eleito vereador num concelho onde há grandes e
graves problemas na integração de minorias étnicas. Foi-lhe dado pelo voto uma
excelente oportunidade para pôr em prática as ideias que não tem para a
solução do problema. Uma coroa de glória para quem se diz católico e cristão,
como ele, mas não. André Ventura resolveu desistir: demitiu-se e disse “chega”
sem sequer ter tentado.