sábado, 28 de julho de 2018

A BELEZA DE UM VEREADOR

Ricardo Robles é um homem bonito. Com nome a lembrar heróis da guerra de África. E é do Bloco. Uma fofura. Talvez seja o que explica as dolorosas cenas que no espaço de um dia fui obrigado a assistir: dirigentes femininas do Bloco e uma escritora, inflamando-se a defendê-lo do ataque insano dos jornalistas de economia que, como todos sabem, são de direita.
A nenhuma vi explicar ao moço a catequese que se ensina nos acampamentos de verão do Bloco: “Direito à boémia: Necessidade de vida noturna para produção e radicalização cultural“; “Desobediência Civil”; e a mais interessante: “A propriedade é o roubo: socialização dos meios de produção”.
A nenhuma delas vi perguntar ao moço de belos olhos por que razão, sendo na altura deputado municipal por Lisboa, não arengou na sessão contra o esbulho do património imobiliário do Estado que só estando nas mãos do Estado pode escapar à lógica da especulação imobiliária, porque é imoral e injusta, opiniões que partilho com o Bloco, ou não levou à letra os ensinamentos do Bloco e não acampou às portas da Segurança Social com um grupo de escuteiros do último acampamento bloquista para impedir a agora famosa hasta pública, em treino de desobediência civil. Em vez disso comprou por tuta e meia aquilo que já se sabia valer um dinheirão.
Agora, depois de gastar quase um milhão, só lhe restam três coisas: Vender pelo valor do mercado e ficar milionário e sem alma; vender a um preço justo que lhe devolva o investimento gasto e um lucro moralmente legítimo mas deixar que outros depois vendam por cinco vezes mais, ficando com cara de totó; ou arrendar àqueles que sempre habitaram Alfama, que são a sua alma, e que construíram ao longo dos séculos a sua fama e peculiaridade que agora atrai gulosos especuladores. Ao fazê-lo, arrendar a preços populares, fará o que durante muito tempo algumas famílias fizeram: empatar capital e esperar pelo seu retorno durante anos. Coisa que nunca veio porque Salazar manteve as rendas congeladas pela 1ª república (Salazar não alinhava com a especulação, tal como o Bloco).
Eu, que ao contrário das moças do Bloco e escritoras românticas não me comovo com os belos olhos do senhor vereador, deixo-lhe uma ideia, já que os problemas familiares o impedem de empatar capital. Venda! Para não cair na teia da especulação, arranje uma cooperativa que lhe devolva o dinheiro gasto e mais um apartamento e mais outro para a mana, e venda o resto a preços justos para famílias com filhos (quero ver Alfama cheia do chilrear de garotos a pedir tostões pelo Santo António), com uma cláusula no contrato que impeça a venda especulativa pelo menos por vinte anos. Com certeza haverá advogados no bloco que lhe possam explicar como se faz. Talvez o irmão do outro vereador Fernandes que é como a dona Constança: não há festa nem festança que lá não esteja, lhe possa escrever o contrato. E depois vá passear os lindos olhos pelos arraiais para ouvir os pregões que as moças casadoiras lhe irão lançar: “ai que santinho, minha nossa senhora”.