No
início da minha vida profissional (foi há tantos anos!) fui trabalhar para uma
autarquia de maioria comunista. Gente fantástica e amiga. Fui recebido de
braços abertos e lá aprendi imenso. Aprendi o sofrimento de um povo que não
tinha tido o direito à terra e onde pouco mais era que escravo dos grandes
donos da mesma. A autarquia tomou a si a grande tarefa de dinamização social e
cultural. Deu trabalho a muita gente e assumiu como pública as tarefas antes
reservadas ao privado. E tinha sucesso, reconhecido à direita e à esquerda, no
entanto… Um dia apareceu por lá o sindicato ligado à CGTP. Os trabalhadores
andavam descontentes porque a autarquia não os colocava no quadro e assim,
ganhavam menos que os trabalhadores rurais da Reforma Agrária. Os sindicalistas
aconselharam que era preciso paciência pois a Câmara trabalhava para o bem
comum e todos tinham que participar no sacrifício. Eram tempos de crise.
Por
razões da vida, e porque também não estava no quadro (era política daquela
autarquia não colocar ninguém no quadro) vim trabalhar para a autarquia onde
ainda me encontro e onde espero terminar os anos da minha vida profissional.
Como lá, fui aqui recebido de braços abertos e de braços abertos continuam a
acolher-me. Sofrem e riem comigo, não podia pedir mais. A política, essa,
caminhou da Aliança Democrática ao PS e deste para o PSD. Os bens da terra,
sempre mal distribuídos, eram, no entanto, um pouco mais equitativos. Não houve
necessidade de avermelhar a luta. Vim encontrar a mesma vontade de assumir um
compromisso sério com as populações, mas os trabalhadores estavam no quadro. Na
altura, como agora, os tempos continuavam de crise e havia, como há sempre,
descontentes. O mesmo sindicato apareceu, e os sindicalistas eram os mesmos que
tinham aparecido a aconselhar paciência aos trabalhadores. Esperei pelo
conselho e qual não foi a minha surpresa quando disseram que era preciso exigir
à autarquia que cumprisse com as justas reivindicações dos trabalhadores. De
nada valeu interpela-los para a incongruência.
Veio-me
à memória este episódio por causa da greve dos enfermeiros e como certa
Esquerda tem denegrido a mesma, só porque a bastonária pertence ao partido "errado"!
Não é
preciso muito para chegarmos à “democracia” do partido único, mas isso
chama-se, como no tempo de Salazar, ditadura!
(imagem daqui:http://www.military.com/daily-news/2015/07/27/with-a-warning-to-us-north-korea-marks-end-of-korean-war.html)