quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

SERÁ O LIVRE UM PARTIDO NEOCOLONIALISTA, RACISTA E PIDESCO?



Que Portugal, a exemplo de outros países europeus, equacione a devolução de património dos territórios outrora colonizados parece me bem. Que essa equação seja desenhada com os governos desses países, ponderando os prós e contras da devolução de um património que sendo deste ou daquele país africano é, no entanto, património da nossa história comum, que merece ser estudado, analisado e investigado, ponderando-se qual o melhor local para o depósito do mesmo para que se torne acessível ao maior número de interessados, parece-me uma atitude inteligente. Gostaria de ter ouvido a deputada do Livre propor formas de cooperação com os governos dos países africanos, nomeadamente para o desenvolvimento de estudos africanos nas universidades, cá e lá, mas tal não aconteceu. Infelizmente o nível da generalidade dos nossos deputados é mau e Joacine, deputada do Livre e cidadã Portuguesa, não foge à regra. Em sede de discussão orçamental faz propostas sem cabimento nessa discussão, substituindo-se aos governos dos países africanos num paternalismo neocolonial de quem se julga na necessidade de defender os interesses dos povos representados por esses governos como se não lhes reconhecesse capacidade para tal tarefa, como outrora se justificava o colonialismo.
Não contente com o despropósito neocolonial, a proposta aponta para uma “Comissão multidisciplinar composta por museólogos, curadores, investigadores científicos (história, história da arte, estudos pós-coloniais e decoloniais) e ativistas anti-racistas…”(sic). Ora a presença de ativistas de qualquer espécie numa comissão que se quer científica só pode significar o pendor inquisitorial e “disciplinador” sobre o pensamento desses cientistas, cabendo aos ativistas verificar o que se pode e não pode dizer, como se de uma pide se tratasse. Nenhum cientista que se preze poderá fazer parte de uma tal comissão.
Na mesma proposta o Livre afirma que aquela comissão deve ir “no sentido de estimular uma visão crítica sobre o passado esclavagista colonial”. Não tendo eu dúvidas sobre a responsabilidade esclavagista colonial do meu país, não vejo que uma comissão que devia ser bilateral, entre a potência colonizadora e os ex-colonizados, deva deixar fugir a oportunidade para estimular também uma visão crítica sobre o passado esclavagista dos potentados africanos de então, pelo que só posso entender a proposta do Livre como profundamente racista.
Goste-se ou não, foram as potências colonizadoras quem pôs fim à escravatura pois esta desonrava os valores que o Ocidente colonizador defende e defendia e que deixou como património aos países colonizados. Uma visão crítica sobre a responsabilidade dos potentados africanos não só é precisa como é necessária, promovendo a igualdade.
Apesar de tudo, e ao contrário do que se disse, há património que eu, como português, não aceito devolver: a riqueza étnica e multicultural que o colonialismo nos trouxe. Joacine é portuguesa e não se devolve. Mas como deputada de uma nação que honra o seu passado, responsabilizando-se pelo que fez de mal e orgulhando-se pelo que fez de bem, tem de perder os tiques neocolonialistas, racistas e pidescos.