É sabida a preocupação
da filosofia em definir o que é o Homem. Platão afirmava que era um bípede
implume (isto porque nunca assistiu a um gay
pride). Famosa ficou também a resposta de Diógenes que lhe atirou uma galinha
depenada para dentro da academia depois de gritar: “Eis o homem de Platão!”
Mais tarde foi a vez de Aristóteles colocar a célebre questão de quem teria
nascido primeiro: se o ovo se a galinha. E foi assim que os galináceos passaram
a povoar a nossa forma de pensar (ou não pensar). É ver o pessoal todo a pôr likes em tudo o que é aforismo de
algibeira, como bagos de milho atirado, e ninguém se atreve a nadar
contracorrente com medo de ser apelidado de fóbico de alguma coisa, porque o
homem é galináceo, não é truta.
Agora foi o facebook que se engalanou de arco íris e
é ver os meus amigos de todas as cores. Como Aristóteles, têm uma preocupação
em arrumar tudo muito direitinho nas gavetas apropriadas, porque isso lhes
confere respeitabilidade. E assim, tudo arrumadinho, homossexuais para um lado,
héteros para o outro, não há confusão possível não vá o diabo tecê-las e
chamarem-me nomes de que não gosto, como se o Homem não fosse macho e fêmea com
possibilidade infinitas de procurar e encontrar prazer, uns dias comendo figos
e outros dias bananas. Nada de confusões. A respeitabilidade é linda e ficou
tudo encantado porque o Supremo Tribunal do Estado mais poderoso do mundo
disse: sim senhor, os homens e as mulheres podem casar. Quer dizer, uns com os
outros. Que raio, estou a fazer uma confusão dos diabos: Os homens com os
homens, as mulheres com as mulheres, como já faziam (já quase não fazem) os
homens com as mulheres e vice-versa. Tudo arrumadinho e respeitável que é para
não andarem para aí a fazerem porcarias uns com os outros às molhadas. Dizem
que foi pelo direito à felicidade. E eu a pensar que o homem e a mulher se
casavam porque preferiam ser infelizes acompanhados, que felizes solitários.
Mas pronto, pode ser que tenham encontrado a fórmula com a bênção do Estado que
passa a conferir carta de alforria aos afectos de cada um. Mas lá dizia o meu
amigo Diógenes, outro grego, o da galinha depenada, lembram-se? “Idade para
casar? Nunca quando ainda se é jovem, nunca quando se já é velho”.
Dizem que é para imitar
os gregos (está na moda) que a sabiam toda. Mas os homens gregos, tirando o
caso de Aristóteles que tinha obsessão por gavetas, casavam com mulheres gregas
para lhes fazerem os filhos, e iam para o deboche com os outros homens, e nunca
lhes passou pela cabeça estragar tal felicidade com essa coisa de papel
passado. Mas os gregos não tinham vergonha da sua ambivalência, como agora que
se quer tudo arrumadinho no seu canto.
Sossegaram os meus
amigos que gostam de futebol, homens suados a correr, mostrando os músculos bem
definidos, tudo nu nos balneários, uma festa, e assim disfarçam o que não se
pode confessar e podem pôr o arco-íris à vontade porque são muito machos e
agora, com isto do casamento, já não há perigo de confusões. Têm orgulho de ter
amigos gays, como amigos negros (e eu
fico sem saber o que dizer, porque nunca olho para a cor dos amigos e muito
menos para o sexo). E quem não gosta é homofóbico e assim toca a pôr um like que é para não me chamarem nomes, e
lá vão os galináceos todos contentes com a raposa a guiar-lhes o caminho.
Vai um tipo muito
sossegado, com o amigo de infância, depois de um jogo em que o Benfica ganhou,
bebem umas bejecas, o gajedo desaparece, porque estão bêbados, e de manhã
acordam um ao lado do outro. Antigamente desculpavam-se com os copos, não se
fala mais nisso, não dei por nada, não faço ideia do que aconteceu, olha não
sei como foi contigo, mas eu não achei piada nenhuma… Agora, diz um para o
outro: tens de divorciar-te da Maria e casamos… fosga-se! Dizem que é pela
felicidade?! Tá tudo doido.
Mas pronto, casa-se tudo
que brincar sozinho é que não vale que é uma grande porcaria que só o Diógenes
(lá está ele de novo) é que o fazia para depois dizer: “quem me dera poder
saciar também a fome esfregando apenas a barriga!”
Sejam felizes.
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