quarta-feira, 25 de setembro de 2013

VAMOS A VOTOS

 

Eu gosto é das autárquicas. O poder local é o que melhor define este país desde a idade média. É o seu sustentáculo e o principal obstáculo à regionalização que nos querem impingir como modernice vinda de fora. A minha simpatia estende-se a todos os que dão o seu tempo e talento, disponibilizando-se a lutarem pela sua terra. Eu, que só à custa dum buldózer consigo sair da frente do computador e de dentro das pantufas, tenho esses homens e mulheres na maior das considerações. Se mandasse, ninguém entraria em São Bento sem fazer tirocínio no poder local, e digo isto sem a mínima ponta de ironia. É por causa do grande carinho que tenho pelos autarcas que aqui venho, em jeito de brincadeira, apelar à ida às urnas, e dispus-me a estudar com atenção o que me propõem os partidos para que no domingo o meu voto seja feito em consciência.

Deitou-me o PSD na caixa do correio uma mão cheia de propostas muito bem elaboradas e elencadas, de tal forma que sendo o candidato o actual presidente da junta, pus-me a imaginar quem teria sido o príncipe encantado que o acordou da letargia comatosa em que ele e a freguesia têm passado o último mandato. A Maria diz-me que estou a ser injusto. Que me lembre do sanitário para os cães ali colocado junto ao pinhal. É certo que sanitários para cães junto a um pinhal são uma redundância mas não é caso para ser ingrato.

O PS então é fantástico. Tão fantástico que se propõe resolver os problemas do meu bairro que eu nem sabia existirem: parece que há falta de um sumidouro ou sargeta. Pensei logo em oferecer-lhes a carteira: aquilo é um sumidouro que só visto.

A CDU, ou o PCP, apresenta um senhor simpático na foto da campanha, assim tipo avô cantigas, que pelos vistos concorre à Câmara, à Freguesia e à Assembleia. Assim se vê a força da CDU!

O Bloco de Esquerda diz que é preciso criatividade. A deles ficou-se pela foto de dois moços que facilmente se confunde com o cartaz publicitário de um filme do faroeste. Como estamos numa de propostas fracturantes, resta-me concluir que mesmo assim não têm cara de príncipes capazes de desencantar a freguesia.

Falta-me o CDS. Pergunto à Maria mas ela diz-me que o caixa do supermercado lhe afiançou que cá na freguesia não há disso, mas que arranja Independentes, se a gente quiser… Assim, como quem impinge um produto de marca branca!

Agora só me resta subir à mesa de voto: é que apesar de haver na freguesia um pavilhão público, com estacionamento à farta, insistem em colocar a assembleia de voto numa escola, sem lugar próximo para estacionar e onde pelo menos 4 secções de voto só têm acesso por escada, violando a lei da acessibilidade.

Difícil será convencer a Maria a ir votar. Anda excitadíssima a consultar um catálogo de moda brasileiro. É que esta casinha, que comprámos no tempo das vacas gordas, fica numa freguesia interior e agora, com a reforma autárquica, vai passar a ter vista para o mar. Por causa disso, meteu-se-lhe na cabeça comprar um daqueles bikinis que a única coisa que ocultam é a vergonha. Já lhe disse para ter juízo, que a crise não justifica tanto corte assim, e o plano director obriga a uma percentagem de área coberta.

Pronto, votem bem e com esperança no futuro!



sábado, 21 de setembro de 2013

ESTRELAS NO MONTEJUNTO

A sul de Capricórnio ouvi, em 1972, Alícia de Larrocha, então considerada a melhor pianista espanhola da história. Depois disso ouvi muitos outros como Tânia Achot no Mondego, Nela Maíssa e Nelson Freire, o famoso pianista brasileiro tão apreciado por Olga de Cadaval, no sopé da serra de Sintra, António Rosado na velha aldeia de Cóz…, todos sacudindo o pó das grandes salas de concerto de Londres, Paris ou Nova Iorque, para respirarem o ar das nossas serras e descansarem nas margens dos nossos rios. Badura Skoda, um intérprete austríaco que tocou com o lendário Furtwangler e com Karajan, e que gosta de visitar Óbidos para ensinar, ouvi-o tocar os estudos opus 25 de Chopin, ali, junto à lagoa, protegido pelas muralhas medievais. Ontem tornei a ouvir os mesmos estudos, desta vez interpretados não por um pianista consagrado como Larrocha ou Skoda, mas por um jovem de 23 anos que subiu da República Checa ao Montejunto para nos mostrar o seu enorme talento aliado a uma técnica rigorosa e perfeita. Irrepreensível.
Em ambiente familiar, num grupo de amigos que acreditam que o mundo pode ser transformado e que se juntaram para apoiar o esforço do Paraíso das Crianças, uma IPSS no Peral, ouvimos o Karel Vrtiska que outro grupo de amigos trouxe até ao Montejunto. Uma juventude que se movimenta pela Europa e que faz dela a sua casa, criando os laços de uma rede baseada na amizade, nos afectos e na cultura, ajudando a construir a nação europeia. É que sem os afectos e sem a cultura não será possível.
Não foi um artista consagrado que ouvimos em Pragança, mas uma estrela que desponta. Afinal não há melhor local para ver o nascimento das estrelas do que a serra do Montejunto.
Iremos concerteza tornar a ouvir o Karel quando ele voltar das salas de Viena, Londres, Tóquio… Virá visitar-nos para tornar a encantar com o seu virtuosismo então temperado com a maturidade que a vida lhe há-de proporcionar.
Entretanto, e para quem não pôde estar em Pragança, aconselho um salto a Praga em Novembro para, no Rudolfino, a melhor sala de concertos de Praga e sede da orquestra filarmónica Checa, ouvirem o Karel tocar.
 


terça-feira, 17 de setembro de 2013

CRISTIANO RONALDO, O PADRÃO OURO DA NOSSA MISÉRIA

A nossa imprensa desportiva, levada pelo entusiasmo, comparou recentemente Cristiano Ronaldo a Eusébio. A Pantera negra não gostou da graça e protestou com veemência. Até porque ele, Eusébio, nunca jogou contra o Liechtenstein nem contra o Azerbaijão.
Vai daí, um entusiasmado português e benfiquista, desconhecido dos seus concidadãos mas embaixador da Europa nos EUA, resolveu fazer prova de vida e comparou o actual presidente da comissão europeia, Durão Barroso, ao craque do Real Madrid: Durão é o nosso Ronaldo da política Internacional, diz João Vale de Almeida.
Não faço ideia se Barroso ou o ilustre embaixador já visitaram o Azerbaijão, e desconheço a opinião dos Gregos e Cipriotas que habitam as terras onde pela segunda vez a Europa foi violentada por um Zeus com cornos, mas aguardamos ansiosos, eu e a nação, a reacção de Cristiano Ronaldo.
Tem o Sr. Embaixador sorte em serem os madeirenses gente bem comportada. Fosse comigo, que sou da terra do Eusébio e vivo nas Caldas, imitava o gesto do líder do SPD alemão na capa da última edição do "Suddeutsche Zeitung" e dizia-lhes: Ide comparar o Barroso ao .…………!


terça-feira, 10 de setembro de 2013

O TAMANHO DOS TESTÍCULOS

 
 
Lê-se na edição online da TVI 24 que um estudo de uma universidade americana sugere (é todo um tratado um estudo sugerir em vez de concluir), que os homens com testículos menores são mais aptos para mudar fraldas.

Sempre é um avanço civilizacional. No tempo dos meus avós dizia-se que não ter testículos nenhuns era condição necessária à tarefa.

Na mesma edição afirma-se que Letícia, seguindo o exemplo do seu sogro, o rei, mandou calar alguém. Nada nos dizem, no entanto, sobre o tamanho dos testículos da princesa.

Entretanto Putin, no conflito com a Síria, ensina Obama como se tornar num líder mundial. Será que isso nos diz alguma coisa sobre a aptidão de Obama para mudar fraldas? Nem o jornal nem a universidade americana sugerem o que quer que seja.



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

SINDROME DE UNAMUNO

“Apresento-me perante vossa majestade porque me concedeu a honra da cruz de Afonso XII que tanto mereci.” “É estranho,” replicou o rei, “todos os outros que a receberam me asseguraram que a não mereciam.” Unamuno respondeu prontamente: “E tinham razão!”
Era assim Miguel de Unamuno. Republicano, depressa se desiludiu com o regime que depôs a monarquia por pensar que aquele destruía a Espanha que tanto amava. Basco de origem, tinha orgulho em pertencer à Espanha de Cervantes. Vê-se assim forçado a aclamar o líder dos rebeldes, o general Franco, achando nele o salvador que a Espanha precisava. Foi breve o encantamento. Na sua amada universidade de Salamanca, perante o governador civil, o bispo de Salamanca e a mulher de Franco, sentindo que ficar calado era o mesmo que mentir, discursou violenta e bravamente contra o brado fascista de “viva la muerte” do general Millán Astray. Perdeu o cargo e morreu um par de meses depois.
A isto chamo a síndrome de Unamuno: de que lado ficar quando ambos os lados não prestam?
Foi ao ler o discurso de Unamuno num dos blogues da minha preferência, que me lembrei que neste meu blogue, há mais de um ano, em Julho de 2012, no rescaldo das Olimpíadas de Londres, falei do assalto a Allepo na Síria. Agora que Obama, prémio Nobel da paz, faz soar os tambores da guerra, qual deve ser a nossa atitude? Entre um regime assassino e assassinos rebeldes, de que lado ficar? É que os “vivas à morte” ouvem-se de todos os lados!
 
O discurso de Unamuno: