segunda-feira, 8 de junho de 2015

QUANDO O KEN É O HERÓI, O MUNDO É O QUÊ?


Fernando, o nosso santo António que agora celebramos, e Francisco eram jovens na casa dos vinte anos quando, cheios de coragem, confrontaram a família, o mundo em que viviam e os inimigos que os ameaçavam com o martírio, porque acreditavam que era possível um mundo mais justo e solidário. Marcaram indelevelmente a consciência da Europa e foram o modelo para muitos outros jovens. O nosso tão apregoado Estado Social deve muito, senão tudo, a estes jovens corajosos.
No meu tempo de menino, marcado já por outros valores, maravilhei-me com o Tarzan, esse herói nietzscheano. Era um cromo da banda desenhada mas não deixava de ser a popularização do Übermensch, o Homem que vai além de si mesmo, o Super-Homem, como pregava o filósofo alemão que ainda não conhecia. E depois havia o fascínio erótico que o bom selvagem, que não obedece a nenhuma lei senão à sua própria, exerce sobre as mulheres, ou assim pensam os rapazes. Se no meu tempo seria ridículo vestirmo-nos de burel (os hippies são uma tentativa absolutamente falhada do anti-herói franciscano), já aparecer na praia de sunga à tarzan era perfeitamente justificável e compreensível. Mais tarde salvei-me por outra figura de herói, também com traços nietzscheanos: Alexandre, o Magno, mas nunca perdi de vista Francisco e António, escondidos no meu esquerdismo mal assumido.
Para se igualarem ao Tarzan ou aos seus jogadores preferidos, os jovens perdiam (ou ganhavam) o tempo em exercícios de musculação ou jogando à bola, e isso só lhes beneficiava a saúde. Quando um jovem se submete a sucessivas cirurgias, prejudiciais para a saúde, para se tornar parecido com o seu herói: o Ken da Barbie, não deixa de mostrar alguma coragem, mas o sinal que lança sobre o rumo da nossa sociedade é assustador: o Ken é um boneco cujo único objectivo é acompanhar a Barbie. Um companheiro casto, ainda por cima. Não por opção como Francisco e António, mas por falta de atributos, o que no imaginário de qualquer homem lhe retira a coragem por não os ter no sítio.
Um jovem aprende e cresce em luta com o mundo e com os pais, como Francisco e António, mas CelsoSantebañes teve o apoio de pais e cirurgiões para o seu delírio. Tinha quase a idade de Francisco e António mas nunca cresceria. Morreu devido a uma leucemia linfoide e a uma pneumonia bacteriana, que se não foram consequência das cirurgias, também não ajudaram nada, pelo contrário. É demasiado estranho para compreender. E é tão triste que guardo-me de dizer o que penso sobre os pais e cirurgiões.

2 comentários:

  1. Há casos que vão além da minha capacidade de entendimento.
    Este é um deles.
    Como é possível um jovem, e quem o acompanhou nunca ter entendido a diferença entre ficção e realidade?!

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    1. É, de facto, difícil entender e aceitar. E não entendo porque razão não há um processo contra os cirurgiões.

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