Fernando, o nosso santo
António que agora celebramos, e Francisco eram jovens na casa dos vinte anos
quando, cheios de coragem, confrontaram a família, o mundo em que viviam e os
inimigos que os ameaçavam com o martírio, porque acreditavam que era possível
um mundo mais justo e solidário. Marcaram indelevelmente a consciência da
Europa e foram o modelo para muitos outros jovens. O nosso tão apregoado Estado
Social deve muito, senão tudo, a estes jovens corajosos.
No meu tempo de menino,
marcado já por outros valores, maravilhei-me com o Tarzan, esse herói
nietzscheano. Era um cromo da banda desenhada mas não deixava de ser a
popularização do Übermensch, o Homem
que vai além de si mesmo, o Super-Homem, como pregava o filósofo alemão que
ainda não conhecia. E depois havia o fascínio erótico que o bom selvagem, que
não obedece a nenhuma lei senão à sua própria, exerce sobre as mulheres, ou
assim pensam os rapazes. Se no meu tempo seria ridículo vestirmo-nos de burel
(os hippies são uma tentativa absolutamente falhada do anti-herói franciscano),
já aparecer na praia de sunga à tarzan era perfeitamente justificável e
compreensível. Mais tarde salvei-me por outra figura de herói, também com
traços nietzscheanos: Alexandre, o Magno, mas nunca perdi de vista Francisco e
António, escondidos no meu esquerdismo mal assumido.
Para se igualarem ao Tarzan
ou aos seus jogadores preferidos, os jovens perdiam (ou ganhavam) o tempo em
exercícios de musculação ou jogando à bola, e isso só lhes beneficiava a saúde.
Quando um jovem se submete a sucessivas cirurgias, prejudiciais para a saúde,
para se tornar parecido com o seu herói: o Ken da Barbie, não deixa de mostrar
alguma coragem, mas o sinal que lança sobre o rumo da nossa sociedade é
assustador: o Ken é um boneco cujo único objectivo é acompanhar a Barbie. Um
companheiro casto, ainda por cima. Não por opção como Francisco e António, mas
por falta de atributos, o que no imaginário de qualquer homem lhe retira a
coragem por não os ter no sítio.
Um jovem aprende e
cresce em luta com o mundo e com os pais, como Francisco e António, mas CelsoSantebañes teve o apoio de pais e cirurgiões para o seu delírio. Tinha quase a
idade de Francisco e António mas nunca cresceria. Morreu devido a uma leucemia
linfoide e a uma pneumonia bacteriana, que se não foram consequência das
cirurgias, também não ajudaram nada, pelo contrário. É demasiado estranho para
compreender. E é tão triste que guardo-me de dizer o que penso sobre os pais e
cirurgiões.
Há casos que vão além da minha capacidade de entendimento.
ResponderEliminarEste é um deles.
Como é possível um jovem, e quem o acompanhou nunca ter entendido a diferença entre ficção e realidade?!
É, de facto, difícil entender e aceitar. E não entendo porque razão não há um processo contra os cirurgiões.
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