quarta-feira, 18 de outubro de 2017

PORQUE ARDEU O PINHAL DE LEIRIA


Foto de Paulo Cunha/Lusa.
Acesso em 16 outubro de 2017.


A culpa dos incêndios dos últimos dias é, por minha convicção, não o posso provar, do ataque premeditado e coordenado que foi feito para a ignição dos fogos, com intuitos a que se pode, e deve, atribuir-se a natureza de terroristas. Já sobre o socorro ou a falta dele haverá por aí muito especialista de bancada que explicará o que sucedeu.
Quando visitamos um ministério somos barrados à porta. Pedem-nos a identificação e os nossos movimentos são vigiados. O pinhal de Leiria é património público, e possuía exemplares únicos e classificados de interesse público, como alguns dos mais altos eucaliptos de Portugal. Não me enganei, escrevi mesmo eucaliptos. Depois de um verão seco e quente, um outono tão quente e tão seco como o verão obrigava a cautelas que não se tomaram. Entre elas a de guardarem o pinhal como fazem aos edifícios ministeriais.
Este é um caso de polícia, ou da falta dela. Os culpados são os terroristas que lhe atearam o fogo e os responsáveis que não conseguiram prever que tal podia acontecer, quando tinham a obrigação de o prever.
Não se vá dizer agora que a culpa do incêndio do pinhal de Leiria é dos eucaliptos que lá estavam. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O QUE HÁ PARA COMEMORAR A 5 DE OUTUBRO?


Como crente que sou, só Deus e a vida são sagrados. Ideias como nação, pátria, república, monarquia, não têm para mim nada de sagrado. São formas de organização que se querem necessariamente mutáveis conforme os interesses das comunidades que servem. Por isso abomino o nacionalismo, que não resiste ao mais elementar estudo da história ou da genética, ou vénias a republicanos ou monárquicos.
Simpatizante de um regime monárquico vivo muito bem neste regime republicano que considero, atualmente, ser o que melhor serve os interesses da comunidade que habita Portugal. A causa monárquica está cheia de gente a cheirar a naftalina dos baús, pingando anéis brasonados dos dedos e ansiosa pela espinha curvada às vénias. Não é o que ambiciono para o país onde vivo. No entanto, não comemoro o 5 de outubro de 1910 porque não há nele nada que mereça ser comemorado. Nem sequer a implantação de uma república que não se conseguiu implantar, apesar do nome. A 5 de outubro apeou-se um rei e alçou-se um presidente. A res pública passou assim para as mãos das oligarquias económicas ou políticas, com um fantoche a acenar ao povo. Dispensou-se o que em futebol denominamos de árbitro. Foi preciso esperar por Abril de 1974 para que nos meses que se seguiram se conseguisse, efetivamente, implantar um regime verdadeiramente republicano.
A 5 de outubro de 1910 houve em Lisboa um golpe de estado. Alguns gostam de lhe chamar revolução mas o termo escapa ao que efetivamente aconteceu:
Em agosto do mesmo ano de 1910 houve em Portugal eleições legislativas legítimas e democráticas, onde 600 000 eleitores, dos 695 471 inscritos, portanto uma participação de 86.27%, votaram contra os republicanos que obtiveram somente 9% dos votos. A queda da monarquia em Outubro não permitiu que o parlamento legítimo tomasse posse. Em 1911 fizeram-se eleições somente nos círculos eleitorais de Lisboa e em 1915 havia inscritos somente 397 038 eleitores, muito abaixo do universo eleitoral das últimas eleições legislativas do regime monárquico. Eleições legislativas legítimas e democráticas só voltaram a haver em 1976. Houve, portanto, e do ponto de vista etimológico, muito mais república no regime monárquico do que nos 66 anos que se seguiram à implantação dita da república. O que se seguiu foram golpes e contragolpes durante 15 anos e meio que resultaram numa ditadura de 48 anos.
Não há nada para comemorar a propósito do 5 de outubro de 1910.

imagem: "O Peso da História" de Pedro Valdez Cardoso