Na praça
Rembrandt, uma menina toma-se de amores por outra, de bronze, da imitação da
“Ronda da Noite” ali lembrada. Fica, de mão dada, conversando com aquela amiga
inusitada, protegendo-a dos rapazes que ensaiam lutas de fusil excitados com a
preparação dos soldados ali representada, alheios, escultura e menin@s, a
ideologias de género. Estamos perante uma obra de arte mesmo que a imitar a
original encerrada no museu: os miúd@s gostam!
O que se
há de escrever sobre Amsterdão, cidade cujos objetos mais icónicos são a
bicicleta, a estação de comboios central, as putas nas montras e o olhar
basbaque dos americanos arrependidos de terem substituído Amsterdão por Iorque ao
nome da sua maior e mais famosa cidade? Não fosse Van Gogh, Rembrandt e a sala
do Concertgebouw com a melhor acústica do mundo e Amsterdão era uma cidade
perdida, afogada por hordas de turistas que a transformam numa imensa feira
popular. Nas lojas decoradas por lustres brilhantes lembrando aos distraídos o
brilho dos diamantes que lhe suja as mãos (e a alma), discute-se a idade dos
queijos à venda como quem discute a velhice de um borgonha ou de um porto,
esquecendo que uns nasceram do fel de uma cabra e que os outros saíram da rocha
nobre doirada ao Sol. Que o queijo e o vinho fazem um casamento perfeito, fazem,
mas Amsterdão bebe cerveja e fuma erva.
Sem traços
de fidalguia, que a cidade é burguesa e protestante, Amsterdão é linda,
simpática, acolhedora, que rapidamente substitui o dialecto local da língua
neerlandesa pelo inglês para agradar e receber o estrangeiro. De fachadas
simples e estreitas debruçando-se (literalmente) sobre a estreiteza das ruas
ladeadas por canais à guisa de uma Veneza sem palácios, encheu-se de flores
coloridas, muitas flores, e patos, e cisnes nadando nas águas escuras de
aparência metálica. É um gosto passear por Amsterdão!