Uma
das minhas óperas preferidas, e a que mais vezes repeti, é “As Bodas de Fígaro”
de Mozart. Por duas vezes a ouvi em S. Carlos e em Praga, cidade amada por
Mozart, tornaria a assistir à crítica dos costumes e dos abusos da classe
dirigente à época de Mozart que este tão bem denunciou com a sua música.
Por uma feliz coincidência,
o 1º de Maio de 1786 foi a data escolhida para Mozart dirigir a estreia daquela
sua ópera, no Burgtheater de Viena. Antecipando
a comemoração do dia do trabalhador, Mozart punha Fígaro, o criado do conde de
Almaviva, a cantar em frente de toda a nobreza do império austríaco uma
cavatina que, referindo-se ao seu patrão que cortejava Susana, a sua jovem noiva, dizia coisas como: “Se quiseres bailar, senhor condezinho, a guitarra tocarei. Se quiseres,
vem à minha escola que te ensinarei como dar cabriolas…”. O responsável do
teatro onde tal despautério se ouvia era, nem mais nem menos, o próprio
imperador José II.
Mozart, talvez encorajado
pelas políticas liberais do imperador que abolira a servidão, e três anos antes
da revolução francesa que faria rolar a cabeça da irmã deste soberano, criticava
jocosamente a forma como os nobres abusavam das jovens criadas e exploravam o
trabalho do povo, lembrando-lhes que os poderosos podem acabar a bailar
conforme a música tocada pelos humildes.
Neste primeiro de Maio,
tal como Fígaro, todos temos uma “guitarra”. Esperar que outros a venham tocar
com promessas de fazer melhor, terá unicamente como resultado acabarmos a
bailar ao som do que tocam os outros.
É a nossa forma de tocar
que determinará como bailarão os que detém o poder, político ou económico. Saibamos
apanhar o tom e o acorde convenientes.
Nem mais tivesse eu acesso ao teatro que não cantaria mas declamaria tal como fez fígaro.
ResponderEliminarTodos os dias, caro anónimo, temos a oportunidade de o declamar. Exigência e respeito é o que devemos declamar/reclamar nas nossas relações de trabalho. E a justa distribuição da riqueza.
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