Uma das coisas que o 25 de
Abril não conseguiu expurgar foram as pechas do sebastianismo e do “respeitinho”.
Percebe-se claramente
quando, 40 anos passados, vemos gente tristonha dizer que não foi para isto que
fizeram o 25 de Abril e esperar embevecida por um qualquer militar armado em D.
Sebastião, como se não tivesse sido aquele rei doido e adolescente quem nos
levou à desgraça. Pois eu digo alto e bom som: Foi bom que se fizesse o 25 de
Abril.
É que eu não me esqueci de
que antes havia uma ditadura, a censura e a falta de liberdade… e o “respeitinho”.
Hoje temos uma democracia representativa, a única democracia que reconheço,
suficientemente adulta para não precisar da tutela de ninguém. Se não estamos
como gostaríamos de estar a culpa é essencialmente da nossa falta de exigência
para com os políticos que elegemos. Mas eles, os políticos, são quem nos
representam e têm todos os defeitos e virtudes que a generalidade do povo
português. Se não gostamos do que vemos no espelho de nada serve parti-lo. Tenhamos
a coragem de nos tornar menos egoístas e mais altruístas como o foram os
militares de Abril, exigentes connosco e com os outros, e talvez tenhamos uma
sociedade mais justa e equitativa. Aguardar por um qualquer D. Sebastião resulta
invariavelmente em ditadura e nenhuma, seja lá a cor, é boa.
Dizem que muitos não eram
nascidos no 25 de Abril e por isso têm de respeitar a quem devem a liberdade. Pois
eu digo que adultos com 40 anos têm idade suficiente para não precisarem de
tutores nem de “respeitinho”.
O facto é que não devemos
a liberdade a ninguém. A Liberdade é um direito dos Povos. Um dia foi-nos
roubada por militares que, através de uma ditadura militar, entregaram o país a
Salazar. Durante 48 anos os militares foram o suporte dessa ditadura.
Se a 25 de Abril, alguns
militares cheios de coragem, jogando com a sua própria vida e carreiras,
decidiram reparar o erro e devolver a Liberdade ao Povo, fizeram um gesto que
os engradece e deixa nas nossas memórias a mais viva e grata das recordações. Sentirem-se
credores é corromper o gesto. Assumirem-se como tutores dessa liberdade é
negarem o 25 de Abril.
Celebremos então com
alegria o 25 de Abril, porque temos a liberdade de escolher, em democracia,
quem nos deve representar na discussão das Leis da República. Para a festa,
contudo, não precisamos de representantes, nem a Assembleia, um lugar de debate
parlamentar, deve servir para sessões solenes. Sessões solenes são como as
missas de sétimo dia. As celebrações fazem-se em festa, na rua, que o Povo não
precisa de quem o represente para festejar.
Faça-se então a festa na rua,
que é onde está o Povo. E por favor! Nada de discursos (bocejo). Nem em São
Bento nem no Carmo. Encham o Rossio, o Terreiro do Paço, de mesas e de bancos.
Tragam os farnéis, que corra a cerveja dos barris e o vinho das pipas, e
cante-se. Numa celebração da morte do “respeitinho”, cante-se e dance-se até
ser madrugada.
Ou não percebi ou então não concordo muito com "a nossa falta de exigência"...
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