quarta-feira, 23 de abril de 2014

PARA CELEBRAR O 25 DE ABRIL FAÇA-SE UMA FESTA


Uma das coisas que o 25 de Abril não conseguiu expurgar foram as pechas do sebastianismo e do “respeitinho”.
Percebe-se claramente quando, 40 anos passados, vemos gente tristonha dizer que não foi para isto que fizeram o 25 de Abril e esperar embevecida por um qualquer militar armado em D. Sebastião, como se não tivesse sido aquele rei doido e adolescente quem nos levou à desgraça. Pois eu digo alto e bom som: Foi bom que se fizesse o 25 de Abril.
É que eu não me esqueci de que antes havia uma ditadura, a censura e a falta de liberdade… e o “respeitinho”. Hoje temos uma democracia representativa, a única democracia que reconheço, suficientemente adulta para não precisar da tutela de ninguém. Se não estamos como gostaríamos de estar a culpa é essencialmente da nossa falta de exigência para com os políticos que elegemos. Mas eles, os políticos, são quem nos representam e têm todos os defeitos e virtudes que a generalidade do povo português. Se não gostamos do que vemos no espelho de nada serve parti-lo. Tenhamos a coragem de nos tornar menos egoístas e mais altruístas como o foram os militares de Abril, exigentes connosco e com os outros, e talvez tenhamos uma sociedade mais justa e equitativa. Aguardar por um qualquer D. Sebastião resulta invariavelmente em ditadura e nenhuma, seja lá a cor, é boa.
Dizem que muitos não eram nascidos no 25 de Abril e por isso têm de respeitar a quem devem a liberdade. Pois eu digo que adultos com 40 anos têm idade suficiente para não precisarem de tutores nem de “respeitinho”.
O facto é que não devemos a liberdade a ninguém. A Liberdade é um direito dos Povos. Um dia foi-nos roubada por militares que, através de uma ditadura militar, entregaram o país a Salazar. Durante 48 anos os militares foram o suporte dessa ditadura.
Se a 25 de Abril, alguns militares cheios de coragem, jogando com a sua própria vida e carreiras, decidiram reparar o erro e devolver a Liberdade ao Povo, fizeram um gesto que os engradece e deixa nas nossas memórias a mais viva e grata das recordações. Sentirem-se credores é corromper o gesto. Assumirem-se como tutores dessa liberdade é negarem o 25 de Abril.
Celebremos então com alegria o 25 de Abril, porque temos a liberdade de escolher, em democracia, quem nos deve representar na discussão das Leis da República. Para a festa, contudo, não precisamos de representantes, nem a Assembleia, um lugar de debate parlamentar, deve servir para sessões solenes. Sessões solenes são como as missas de sétimo dia. As celebrações fazem-se em festa, na rua, que o Povo não precisa de quem o represente para festejar.
Faça-se então a festa na rua, que é onde está o Povo. E por favor! Nada de discursos (bocejo). Nem em São Bento nem no Carmo. Encham o Rossio, o Terreiro do Paço, de mesas e de bancos. Tragam os farnéis, que corra a cerveja dos barris e o vinho das pipas, e cante-se. Numa celebração da morte do “respeitinho”, cante-se e dance-se até ser madrugada.



1 comentário:

  1. Ou não percebi ou então não concordo muito com "a nossa falta de exigência"...

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