terça-feira, 15 de abril de 2014

NO PAÍS DO SEI LÁ, ou para que servem as bibliotecas

 

Num programa de perguntas e respostas da televisão, uma jovem formada em gestão não conseguiu responder à pergunta sobre quem tinha escrito a célebre obra “A riqueza das Nações”. Não gostava de economia, disse em sua defesa. Temos assim o caso peculiar de uma gestora que detesta economia.

De facto, gostar de economia implica ler, uma maçada. Já a gestão, bastam duas colunas para o deve e o haver.

Depois ler faz pensar, outra maçada. E é preciso bibliotecas que ficam vazias, porque o hábito necessita de uma, duas ou mais gerações, tal e qual um campo semeado que precisa de quatro estações antes da ceifa, e gasta-se muito dinheiro enquanto não se vêm os resultados. Mas se não semear não haverá ceifa.

Pensar para quê? O que é preciso é fazer coisas, como a gestão. A mão de obra fica barata e assim os investidores dos países com bibliotecas vêm cá abrir as suas fábricas e dar emprego a toda a gente.

Tão simples como isso: os que têm bibliotecas fazem as fábricas, os outros sujeitam-se ao ordenado que lhes quiserem pagar. É tudo uma questão de gestão e escusamos de cansar a vista lendo o que escreveram o Locke, o Adam, a Rosa e o Marx. Economia? Uma maçada. É preferível continuarmos a viver no país do “Sei Lá”.

Um dos países que tem muitas bibliotecas é a Alemanha. Um dos seus reis, Frederico II da Prússia, era um amante das artes, da música, e dos livros e sabia falar português. Transformou a Alemanha numa das maiores potências da Europa. Uma maçada!

Estamos assim no país do “Sei Lá”, um livro e um filme de sucesso. Uma visão do mundo de quem não gosta de maçadas, que fala das relações dos homens com as mulheres, assim de uma maneira mais gira e mais sei lá, do que o Homero. Uma questão de gosto, dizem. É dinheiro a entrar em caixa rapidamente: uma alegria para os gestores “sei lá”.

Mas Homero é como o trigo: tem semente. Por isso a cultura vem de cultivar. Exige esforço e dedicação, até que se produza e se consiga transformar o meio onde vivemos. Satisfazer pelo gosto pode engordar mas não ensina a mudar.

O senhor da foto que lê um livro? De calças rasgadas e o cão ao colo, mais preocupado como o ser do que o ter? Theodore Roosevelt. Um dos grandes presidentes dos EUA, com direito a ter a efígie gravada na pedra do monte de Rushmore. Outra maçada!

Antes que fechem as bibliotecas vazias, corram a saber quem foi que escreveu o tal livro “A riqueza das Nações” e depois continuem alegremente vivendo no país do “Sei Lá”.

 

Foto roubada daqui: http://punditfromanotherplanet.com/2013/11/03/paradox-of-the-book-the-chaos-of-the-internet-makes-reading-easier/



9 comentários:

  1. Ora viva! Costumo dizer que quando os utentes das bibliotecas deste País forem pelo menos metade dos frequentadores dos estádios de futebol então sim, Portugal será um país rico e evoluido. Um abraço.

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    1. Pelo menos temos de garantir o acesso ao conhecimento a todos. A Alemanha e a Inglaterra são países onde levam a cultura mas também o desporto muito a sério. Quer a cultura quer o desporto são factores de liberdade.

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    2. Concordo em número, género e grau! Esquecem-se que a bola não dá comida, só aos q a jogam, e q é nas letras e conhecimento q reside a base de uma sociedade evoluída! É pena...

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  2. Só que os Alemães, os Ingleses, os franceses, os italianos, os Holandeses e os Espanhóis, também enchem estádio mas também enchem museus e bibliotecas, não há uma correlação negativa entre o futebol e a cultura e os países a maioria dos países onde o futebol é desenvolvido, também a cultura e a investigação são áreas muito desenvolvidas. Eu não diria que Portugal seria um país rico e evoluído os frequentadores das bibliotecas forem pelo menos metade dos frequentadores dos estádios de futebol, diria antes que Portugal seria um país rico e evoluído quando pelo menos metade dos deputados e dos governantes sejam pessoas intelectualmente evoluídas, cultas e com sentido critico.

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  3. Sejam muito bem vindos a comentar, Rui e Afonso Jorge. Quer para concordar quer para discordar. É batendo com as pedras umas contra as outras que se faz saltar a chispa que nos alumia.

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  4. Para os gestores do sei lá uma biblioteca deverá estar fechada aos sábados e aos domingos, ou seja, aberta no horário laboral dos potenciais utilizadores; é uma óptima opção porque tem toda a lógica...

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  5. Uma biblioteca é um armazém de livros onde não se deve promover a cultura, o conhecimento e a sabedoria. A ignorância é a arma de um povo que não valoriza aquilo que tem, prendendo-se a um passado que não regressa e cultivando o ditado "a galinha da vizinha é melhor do que a minha"...
    É assim que sobrevivemos...

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