quinta-feira, 21 de julho de 2016

QUEM PASSA POR ALCOBAÇA, NÃO PASSA PARA ROUBAR. OU PASSA?


Gosto muito de hotéis. E também de monumentos. Juntar hotéis e monumentos não é uma ideia nova em Portugal. Desde 1950 que o conceito de pousadas históricas existe com grande apreço da população e da crítica. O Smithsonian Foundation atribuiu às Pousadas de Portugal o prémio anual pelo papel preponderante na defesa do património cultural e do ambiente para fins turísticos.
O mosteiro de Alcobaça, com mais de 800 anos, tem um papel mais do que simbólico na fundação do nosso país, que é pouco reconhecido pelas autoridades e pela população em geral. Para lá da sua importância na fundação e defesa do Estado Português, é lá que está o símbolo maior do nosso amor: os túmulos de Pedro e Inês. Mas representa também o primeiro e, durante muitos anos, o único exemplar da arquitetura gótica. Para além do monumento, a presença dos seus monges na região deixou marcas na agricultura e na engenharia hidráulica.
A brancura das suas pedras, os seus vitrais sem cor, e a falta de ornamentação (se exceptuarmos os túmulos) convidam-nos à ascese. Esse ascetismo obrigou, em remodelações recentes, a uma envolvência exterior despida de ornamentos que não foi compreendida pela maior parte da população que gosta de jardins barrocos. Desconhece, a população e alguma elite, que aquela “limpeza” e despojamento fazem parte da matriz de Alcobaça assente na reforma cisterciense, resumida na sua legenda beneditina: ora et labora (reza e trabalha).
Obras de restauro e adaptação, sempre as houve. A cozinha de Alcobaça, que faz as delícias dos visitantes, não é, ao contrário do que se julga, medieval, mas do século XVIII. Instalar um hotel numa ala e claustro onde ninguém vai e onde ninguém está disposto a investir o dinheiro dos contribuintes, mesmo aqueles que agora rasgam as vestes em protesto, parece-me bem.
Se a Ordem de Cister, fundadora do mosteiro, era, e é, austera e despojada, um Hotel de 5 estrelas não pode sê-lo. 90 quartos de luxo numa terra pequena como Alcobaça só se garantem à custa do prestígio das pedras que os rodeiam e que são de todos nós. Andarmos a trabalhar para o lucro dos outros sempre com o Credo na boca, tal como os monges de Cister, não! Devemos lembrar que esses monges, para além de rezarem e de trabalharem, também pegavam em armas para expulsar os mouros que lhes roubavam as searas.

Pagar 5 000 euros anuais por aqueles claustros, o mesmo (ou menos) que para uma renda de casa familiar, parece-me um despojamento do Estado que deve merecer o nosso mais vivo repúdio, senão mesmo investigação criminal. É que me parece um roubo!

6 comentários:

  1. Tem toda a razão, é ridículo e aproxima-se mais do roubo que do despojamento. Haja alguma moralidade e compostura!

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    1. E ainda a autarquia vai ter de resolver a questão dos acessos. Não tenho dúvida da mais valia para a região, mas, como diz, alguma compostura é precisa face a monumento tão vetusto.

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  2. Curiosa gargula que tantas figas faz, como se pretendesse afastar o convivio com as "elites" analfabetas que a tomam por pokemon, e os gemidos das wags da bola provenientes da janela de baixo..

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    1. Caro anónimo. Repare que a gárgula não faz figas. Aperta os mamilos para dar de mamar aos gulosos. Quanto à janela de baixo resta-me lembrar: o que se passa na janela de baixo, fica na janela de baixo.

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  3. Caro amante de hotéis e de monumentos, sugiro um périplo por alguma anatomia também, ou com as novas tecnologias aumente a imagem, e verá que o que toma por mamilos são na verdade dedos. Cumprimentos à janela de baixo.

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    1. Impõem-se uma visita à gárgula. Resta saber quem paga o lanche na pastelaria Alcoa.

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