Procurando coisas doces para oferecer
neste período Pascal deu-me um amargo de boca quando li que o pão de
ló seria uma invenção de um genovês. Dizem que o italiano quis obsequiar o rei
espanhol Fernando IV com um bolo doce e leve, isto em meados do século XVIII.
Veio-me logo ao palato todo o vernáculo camiliano apimentado com o do Aquilino
que não lhe fica atrás. Um genovês? Outra vez? (Até rima!) Que tenham feito o
alentejano Colombo, genovês, a gente aguenta, agora o pão de ló, alto e pára o
baile.
É claro que isto de reclamar a
portucalidade do pão de ló exige muito estudo e trabalho, pelo que me atirei às
pesquisas, que são os genoveses piratas de muita manha. Ora acontece que quando
o tal genovês ofereceu o bolo ao Fernando IV, que não sabemos se o empurrou com
malvasia como dizia o Cesário, já o Japão se tinha fechado em copas e de
Nagasaki ninguém passava, que é cidade fundada por portugueses, caso não
saibam. Complica-se a coisa com Castela, Génova e Japão e dizem os meus
leitores que ensandeci. Ainda não!
Acontece que no Japão se come um bolo
que em tempos só se oferecia ao imperador, tal o custo do açúcar naquelas
paragens. Hoje é muito popular e chamam-no Kasutera que é uma corruptela de
Castela: “o pão de Castela”. O tal bolinho japonês, dizem os próprios, foi-lhes
levado pelos portugueses no século XVI, duzentos anos antes do Fernando IV se
ter embuchado com o bolo do genovês. Ora cá está a prova de que o pão de Ló,
levado nas naus e caravelas, saiu das mãos das nossas meninas postas em
convento e não das de um genovês (podia lá um pirata ter tamanha
sensibilidade?).
Comam-no à moda de Ovar, de Rio Maior
ou de Alfeizerão. Por mim prefiro o da Ti’Piedade do Painho. Batam muitas gemas
com açúcar até cansar os braços. Juntem farinha (pouca) caída do alto para
aventar e a seguir as claras batidas em castelo, em menor número que as gemas, que o bolo quer-se como as camisolas do Estoril praia. Vai ao forno a cozer, mas
não muito, a não ser que gostem dele seco e nessa altura há que o comer
acompanhado com a malvasia, que é vinho da Madeira cantado por Shakespeare, ou
com um Porto vintage, para não embuchar.
Uma Santa e Feliz Páscoa.
Na imagem: prato da fábrica
Rafael Bordalo Pinheiro, aguardando o pão de Ló que há de ser cozinhado, porque
hoje é dia de jejum!
Feliz Páscoa também para si e muito obrigado por mais este texto!
ResponderEliminarUma feliz Páscoa para si e obrigado por me ler.
EliminarQue alivio.....
ResponderEliminarAinda bem que fez uma investigação exaustiva para esclarecer esta blasfémia.
Os piratas nem chegavam a ter ovos para bater. Assim que os viam faziam-lhe um furinho e marchavam assim mesmo.
Feliz Páscoa e obrigada por mais uma lição.
Isto de ir contra piratas e genoveses (já nos roubaram o Colombo)requer sempre muito trabalho! Uma Feliz Páscoa para vocês.
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