sexta-feira, 25 de março de 2016

PÁSCOA, PÃO DE LÓ E PIRATAS


Procurando coisas doces para oferecer neste período Pascal deu-me um amargo de boca quando li que o pão de ló seria uma invenção de um genovês. Dizem que o italiano quis obsequiar o rei espanhol Fernando IV com um bolo doce e leve, isto em meados do século XVIII. Veio-me logo ao palato todo o vernáculo camiliano apimentado com o do Aquilino que não lhe fica atrás. Um genovês? Outra vez? (Até rima!) Que tenham feito o alentejano Colombo, genovês, a gente aguenta, agora o pão de ló, alto e pára o baile.

É claro que isto de reclamar a portucalidade do pão de ló exige muito estudo e trabalho, pelo que me atirei às pesquisas, que são os genoveses piratas de muita manha. Ora acontece que quando o tal genovês ofereceu o bolo ao Fernando IV, que não sabemos se o empurrou com malvasia como dizia o Cesário, já o Japão se tinha fechado em copas e de Nagasaki ninguém passava, que é cidade fundada por portugueses, caso não saibam. Complica-se a coisa com Castela, Génova e Japão e dizem os meus leitores que ensandeci. Ainda não!

Acontece que no Japão se come um bolo que em tempos só se oferecia ao imperador, tal o custo do açúcar naquelas paragens. Hoje é muito popular e chamam-no Kasutera que é uma corruptela de Castela: “o pão de Castela”. O tal bolinho japonês, dizem os próprios, foi-lhes levado pelos portugueses no século XVI, duzentos anos antes do Fernando IV se ter embuchado com o bolo do genovês. Ora cá está a prova de que o pão de Ló, levado nas naus e caravelas, saiu das mãos das nossas meninas postas em convento e não das de um genovês (podia lá um pirata ter tamanha sensibilidade?).

Comam-no à moda de Ovar, de Rio Maior ou de Alfeizerão. Por mim prefiro o da Ti’Piedade do Painho. Batam muitas gemas com açúcar até cansar os braços. Juntem farinha (pouca) caída do alto para aventar e a seguir as claras batidas em castelo, em menor número que as gemas, que o bolo quer-se como as camisolas do Estoril praia. Vai ao forno a cozer, mas não muito, a não ser que gostem dele seco e nessa altura há que o comer acompanhado com a malvasia, que é vinho da Madeira cantado por Shakespeare, ou com um Porto vintage, para não embuchar.
                       
Uma Santa e Feliz Páscoa.


Na imagem: prato da fábrica Rafael Bordalo Pinheiro, aguardando o pão de Ló que há de ser cozinhado, porque hoje é dia de jejum!

4 comentários:

  1. Feliz Páscoa também para si e muito obrigado por mais este texto!

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  2. Que alivio.....
    Ainda bem que fez uma investigação exaustiva para esclarecer esta blasfémia.
    Os piratas nem chegavam a ter ovos para bater. Assim que os viam faziam-lhe um furinho e marchavam assim mesmo.
    Feliz Páscoa e obrigada por mais uma lição.

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    1. Isto de ir contra piratas e genoveses (já nos roubaram o Colombo)requer sempre muito trabalho! Uma Feliz Páscoa para vocês.

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