A história é velha e
relha, mas sempre renovada. A moça tinha 15 anos, mais dois do que a famosa
Julieta do bardo inglês, que isto passa-se em terras de Sua Majestade. Não
consta que Romeu fosse jogador de bola, mas a Julieta desta história era uma fã
emotiva de um jogador de bola com 28 anos. Tem lugar cativo no estádio onde ele
joga, espera por ele na porta do clube para umas selfies, grita emocionada, usa tshirts
com o seu nome, oferecem-lhe um bolo de aniversário com o futebolista como decoração,
e um dia o jovem futebolista oferece-lhe uma camisola autografada. Amigos de facebook, telemóveis trocados, que
vivemos na era digital, o futebolista pergunta se a oferta tem ou não retorno.
A jovem acha-lhe piada, faz-se coquete, e como as suas referências são os raps que ouve e os big brothers que vê na TV, seduzida pela fama que lê nas revistas,
um dia entra no carro do futebolista, que deve ser uma máquina, suponho eu.
São jovens, cheios de
vitalidade e a natureza não se expulsa com as forquilhas dos decretos. Dito em
latim que é mais bonito: Naturam expelias
furca, tamen usque recurret. Aconteceu o que não devia acontecer de acordo
com a Lei. A Natureza, essa, tem muita força e o rapaz até se chama Adão.
A moça gravou a conversa
para provar às amigas a conquista. Contente, contou-lhes os pormenores não
gravados do que ali se passou, que isto de troféus só tem graça quando
exibidos. Tal como a heroína desta tragédia, as amigas são suficientemente
patetas para fazerem uma página de facebook
sobre o tema, onde se conta o que devia manter-se em privado. A moça aflige-se,
assusta-se com as proporções que o caso toma, sente que está em perigo e que em
perigo está o futebolista de quem é fã e mais qualquer coisa que nem ela sabe
bem o quê. A pressão é muita, não aguenta e conta ao pai, que conta à polícia
que entrega aos juízes o futebolista traído pela testosterona e pela patetice
de ligar a uma fã que é uma criança porque a sociedade assim determinou.
Entretanto o tribunal exibe fotos da genitália do rapaz, porque é necessário
comparar o comprimento dos pelos púbicos que a moça diz que ele não tem…!!?
Fosse a história há cem
anos, quando se guardavam as filhas, o pai matava o rapaz e a menina ia para o
convento. Na melhor das hipóteses, e como o partido é apetecível, obrigava o
rapaz a casar com a moça e fazia-se uma festa de arromba tudo pago com o
ordenado do futebolista. Hoje, a menina sofre bullying na escola, e mais tarde tem uma história para contar aos
netos que se enfadam com a falta de picante. O rapaz passa uma temporada na
cadeia e fica com a carreira de futebolista destruída. No meio disto tudo
resolva o leitor quem é a vítima e quem é o culpado…
Moral da História: não há qualquer moral, porque a
palavra, tal como decoro e pudor, é feia e proibida para a geração “casa dos
segredos”. A permissividade dos costumes é completa porque a queremos assim,
convencidos que os jogadores de bola, tal como as nossas adolescentes, são um
poço de virtudes e não é preciso guardar nem prevenir! Convencemo-nos que a Lei
garante o respeito pelas barreiras artificiais da idade que variam conforme a
latitude e a longitude. Se 15 anos são pouco em Inglaterra, é suficiente em
França. Já em Portugal, Alemanha e Brasil a barreira desce para os 14 anos, e
na Argentina para os 13 anos. Em Angola 12 anos, e já se é uma mulheraça! Com
as balzaquianas não há problema desde que se prove estarem sóbrias…
O que ainda me admira é
querermos colher trigo onde semeamos joio!
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