sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

AS CARTAS, O VERMELHO E OS FERIADOS

 
 

Quando intitulei este meu blog de: Cartas das Caldas, estava longe de imaginar que o estilo epistolar iria renascer nas planuras do Alentejo.

Se as cartas de Valmont e madame Merteuil nos remetem para a intriga, já as do marquês de Sade, da marquesa de Alorna e do conde de Assumar nos lembram as agruras do cárcere, como as do preso mais famoso de Portugal (que ninguém se tenha lembrado de promover estudos sobre a apetência dos políticos da república para copiarem os tiques aristocráticos é coisa que me espanta). Não sabemos com que cor escrevia a freirinha Mariana Alcoforado desde a prisão de um convento, não de Évora, mas de Beja, mas tendo em conta o estado do seu amoroso coração, bem podia ter sido o vermelho. Não será, portanto, por a tinta ser vermelha que a coisa se torne mais inédita ou popular. Convém lembrar que o conde de Assumar escrevia a vermelho, porque só lhe restava o próprio sangue como tinta, ao passo que Jack, o estripador e o serial killer polaco Staniak gostavam de assinalar com aquela cor a própria psicopatia. Entre tiques aristocráticos e psicopatias vai um salto e reparo agora que esta história das cartas me foi desviando dos feriados que queria assinalar.

Cartão vermelho é o que este governo leva com a história dos feriados, confundindo produtividade com horas de trabalho, talvez levado pelo facto de que facilmente se esmaga a formiga trabalhadora enquanto que à cigarra cantadeira dificilmente alguém a apanha. Andou bem a Igreja católica quando, encostada à parede como em Savona, salvou o 8 de Dezembro em detrimento do 1º de Novembro (a Igreja tem a sabedoria milenar e ser Napoleão não é para quem quer, mas para quem pode). Os mortos não deixarão de ser lembrados e a festa da nossa mãe, padroeira, e rainha na sequência daquele 1º de Dezembro também ele roubado, é demasiada importante para ser descurada, não fosse ter ela sido antecedida pelas famosas deusas lunares pagãs da Lusitânia (a Lua lá está, e a serpente…). Povo sem os seus totems é amálgama de gente sem identidade, pelo que é caso para dizer: ide brincar com o xxxxxxo do vosso pai, que os feriados são importantes demais para chocarrices de gente sonsa.

Toda a minha vida estive ligado, de certa forma, a Nossa Senhora da Conceição, ilustre madrinha de baptismo de meu pai. Desde o baptismo feito na mesma igreja onde meus pais se casaram e que lhe está consagrada até à terra onde actualmente trabalho, e que tem aquela representação da Virgem como orago. Caldas da Rainha, onde vivo, tem a Senhora do Pópulo como orago mas a sua matriz, onde baptizei a minha filha, está consagrada a Nossa Senhora da Conceição. Eu e a minha mulher começámos a namorar pela festa da Imaculada Conceição e o nosso primeiro filho foi baptizado na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, cuja aparição se identificou a Bernadette como sendo a Imaculada Conceição. Coincidência ou não, sinto-o como privilégio.

Nos dias de chuva, eu e a minha irmã mais velha, junto à janela onde se pendurava o ramo bento para livramento de trovoadas, rezávamos, não a santa Bárbara mas à Senhora da Conceição para que fizesse sol, chuva não.
 
Nossa Senhora da Conceição
faça sol e chuva não.
Está a chover, está a pingar
e a raposa no quintal
a apanhar laranjinhas,
para o dia de Natal!
 

… é tempo de ir ao musgo para o presépio!


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