Custa-me ver o paladino da democracia
e da ética republicana clamar, numa postura ofensivamente aristocrática, mais
preocupada com o “processo” do que com os indícios, as detenções que afectam
amigos e correligionários, gritando sempre alto e em bom som que todo o povo
pensa como ele, como se a brisa suave que corre pelo Campo Grande igualasse os
ventos frios do Marão. Como se o majestático epíteto do absolutismo fosse
agora: Le Peuple c’est moi.
A ética desta república esqueceu-se de
que à mulher de César não basta ser honesta mas que é preciso parecer, e quando
um político não parece honesto, embora o seja, é porque a sua conduta fere de
algum modo a tão apregoada ética republicana. Os que rasgam as vestes por causa
das humilhações públicas dos seus correligionários deveriam tê-las rasgado
quando a parecença de honestidade deles era posta em causa, tornando-se, isso
sim, uma humilhação para todos. As instituições democráticas beneficiariam.
Num tempo em que o Povo desacredita
das instituições democráticas por causa dos maus políticos, é necessário
lembrar, não os que enchem a boca com a ética republicana, mas os que a
aplicaram todos os dias da sua vida. E Portugal e a democracia conheceram,
felizmente, dois desses políticos: Maria de Lurdes Pintassilgo e Ramalho Eanes.
Lurdes Pintassilgo e Eanes fazem parte
do grupo de políticos a que pertencia Thomas Moore: os que vivem de acordo com
as convicções que pregam, procurando sempre o bem da comunidade e não as
benesses dos cargos que ocupam, vivendo no silêncio do dever cumprido. Além
deste grupo de políticos, que desejaríamos fosse o único, existem outros dois:
os que trabalham de igual modo para o bem da comunidade mas que se aproveitam
de todas as benesses que consigam obter com o cargo, e um terceiro grupo, o
daqueles que só se aproveitam e não cuidam do bem comum. Os destes grupos falam
sempre de altos púlpitos enchendo o vazio com as suas orações à ética
republicana. Por isso têm razão os que dizem não serem os políticos todos
iguais. Resta saber com quem se desiguala quem o diz.
Assim como não basta apregoar a ética
republicana também não basta falar na desigualdade dos políticos se não
parecerem diferentes.
Ninguém é mau, e quanto
mal foi feito.
Vitor Hugo
Já lá vai o tempo em que quebrar a loiça toda resultava, mais não seja compravam-se peças novas, imaculadas. Agora a loiça, de origem duvidosa mesmo não sendo fabricada nas terras vermelhas, é sempre igual, como se as formas nunca se corroessem com a utilização.
ResponderEliminarO acabamento destas peças é de tão má qualidade, porém ainda se engana o povo quando "compra" sempre o mesmo, apesar de escolher lojas diferentes. Valha-nos a tradicional loiça das Caldas, mais não seja porque ainda arranca algumas gargalhadas, essas sim puras e inocentes.
Quando a chacota não presta acabamos todos chacota dos outros.
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