De médico e de louco todos temos um
pouco, já os políticos conseguem abarcar toda e qualquer profissão, arte ou
técnica. Quando Malhoa pintou o seu quadro que intitulamos de “O Fado”, e que
alguns crêem ver nele uma homenagem do pintor à canção popular de Lisboa apesar
da realidade canalha ali retratada, sofreu não só a censura do fadista Amâncio
como do próprio rei Manuel II.
Do Amâncio percebemos: O homem não
gostava de ver o pintor desnudar os ombros e os seios da Adelaide, e o ciúme é
democrático. Chega a todos. Quanto ao rei, este não gostou de ver os braços da
Adelaide da Facada cobertos de tatuagens (a malta de agora não inventou nada) e
obrigou o pintor a apagá-las excepto uma muito pequena que mal se vê. Isto
cinquenta anos após “Le dejeuner sur
l’herb” do Manet. Diga-se em abono da verdade que a mulher nua do quadro de
Manet não tem nenhuma tatuagem que se veja pelo que não havia razão para Malhoa
ser assim tão ousado, que raio!
Felizmente hoje os políticos já não se
metem com mulheres de braços nus (nos quadros, evidentemente). Agora
contentam-se com os jardins de buxo. Os jardineiros de Lisboa deixaram ao
desmazelo os canteiros da praça do Império. O Zé Fernandes de Lisboa, em vez de
repreender a empresa de jardineiros contratada, resolve eliminar os canteiros.
Ouviu o parecer de técnicos? Do povo? Da Câmara ou da Assembleia? Para quê? Ele
é o Zé que faz falta a Lisboa. Depois da fortuna que a Câmara, por sua culpa,
teve de pagar pela paragem do túnel do Marquês, o infalível vereador poupa
agora nos canteiros de buxo.
Sendo o quadro do Malhoa propriedade
da Câmara Municipal de Lisboa, esperemos que o inefável Zé não se lembra de
mandar apagá-lo com o argumento que aquilo já não representa a canção da cidade,
agora que virou património da humanidade. Ser a canção de Lisboa representada
por uma prostituta com um chulo de nome Amâncio, não faz falta nenhuma...
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