Os famosos crepes suzette, invenção do grande chefe
parisiense Escoffier fazem-se exactamente como qualquer outro crepe com uma
ligeira diferença: o aroma a laranjas. Deixam-se cair do alto por uma peneira 110
g de farinha com uma pitada de sal. Faz-se um buraco no centro e deitam-se dois
ovos inteiros e bate-se tudo muito bem com uma vara de arames. A seguir vai-se
juntando lentamente uma mistura de 75 ml de água com 200 ml de leite, enquanto
se mexe sempre muito bem. Quando tiver um creme fino, derreta 50 g de manteiga
numa frigideira. Tire 2 colheres da manteiga e misture muito bem à massa. A
restante manteiga reserve para lubrificação da frigideira que se fará com papel
de cozinha. Termine a massa com uma colher de sopa de açúcar e a raspa de uma
laranja média.
Numa frigideira de 18 cm
de diâmetro bem quente vá deitando pequenas porções de massa. À medida que vão
cozinhando, vire os crepes com cuidado ou então tenha a coragem de os virar
atirando-os ao ar se não estiver ninguém a ver. Dá para cerca de 15 a 16
crepes. Não esqueça de ir lubrificando a frigideira com papel ensopado em
manteiga.
Pergunta o amável leitor
ou leitora a razão da fama desta sobremesa. É que os crepes foram cozinhados em
honra de Eduardo VII que já tinha entrado na crónica das Sandes de Alexandra,
lembram-se? Tudo aconteceu em Paris onde o então príncipe de Gales ia com a
mesma frequência que uma beata vai à missa cantada por padre jovem.
Paris vale bem uma missa,
por causa dos crepes e não só, como dizia o rei de Navarra que lá se deixou
assassinar sem dar um grito, porque aquilo era gente de outra têmpera.Por se
tratar de uma crónica de culinária e de um blogue lido por famílias, não
contarei aqui como se divertia o príncipe e as filles de joie numa banheira em forma de cisne coberta até acima
com champagne no famoso Le Chabanais. Também não ouvirão contar
que a famosa casa visitada por Mae West, Humphrey Bogart e Gary Grant, tinha
uma cama encimada com o brasão da casa de Windsor. Muito menos me atreverei a falar
da famosa cadeira, ou mais apropriadamente siege
d’amour, que o bordel, perdão, maison
de tolerance, mandara construir propositadamente para as façanhas acrobático/amorosas
do príncipe, que fariam corar de vergonha as páginas do Kama Sutra.
Se o príncipe gostava de
se divertir, não gostava menos de comer e Escoffier
lembrou-se de uma manteiga aromatizada com laranja para os singelos crepes.
Misture 150 ml de sumo de laranja, raspa de uma laranja média, sumo e raspa de
um limão pequeno, 1 colher de sopa de açúcar e 3 colheres de sopa de um bom cognac, que isto é receita de príncipes.
Na frigideira derreta 50 g de manteiga sem sal, deite com gentileza a mistura
de sumos e deixe aquecer lentamente. Vá pondo os crepes, um de cada vez, sobre
esta mistura para os aquecer e ensopar, vire-os ao meio e outra vez até ficar
um triângulo. Encoste o crepe à borda e vire a frigideira para que escorra o
líquido para a outra borda. Retire e coloque o crepe no prato aquecido. Repita
para cada crepe.
Depois de todos os
crepes estarem em seus pratos coloque-os na mesa. E agora, com o pensamento na
banheira cheia de champagne e naquela
cadeira que o príncipe usava, seja ousado/a. Retire a frigideira do lume, deite-lhe
dentro mais um pouco de conhaque e leve de novo ao lume a aquecer o álcool.
Vire um pouco a frigideira de modo a pegar fogo ao brandy e assim, com tudo a
arder e com o Credo na boca, vá deitando as labaredas de fogo sobre os crepes
em seus pratos. Mas pelo amor de Deus não se queime, que isto de bordéis e flambés o importante é a gente não se queimar.
Tinha o príncipe enorme
bom gosto, valha-nos isso, pelo que ficou horrorizado quando o chef quis chamar à sobremesa: Crepes Eduardo! Para sorte da
humanidade em geral, e dos crepes em particular, passava no local uma jovem e
bonita vendedora de violetas de nome Suzette...!
Champagne, manteiga a lubrificar, siéges d’amour, príncipes, flambés, e violetas, e mais as
vendedoras delas… olhem, eu vou ali comer um gelado e já volto, que a Suzete
está a fazer-me sinais.
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