Quando
Bento XVI, na sua aula em Ratisbona, citou o imperador Bizantino Manuel II,
Paleólogo, esqueceu-se que na Pérsia já não havia homens eruditos como o que
discutia com Manuel II.
Que os muçulmanos tivessem ficado
melindrados com a aula de Bento XVI compreende-se, embora deixassem a
descoberto a fragilidade actual do pensamento das elites intelectuais islâmicas
que, no meio do ruído gerado, perderam uma oportunidade para se fazerem ouvir.
Quando estudantes e professores da Universidade La Sapienza recusaram ouvir
Bento XVI demonstraram à saciedade que quer o Ocidente quer o Oriente não
estavam preparados para o brilho e grandeza do pensamento de Ratzinger. A luz
do discurso do Papa punha a nu a pequenez das elites intelectuais do mundo
actual, e isso era-lhes insuportável.
Nunca como hoje o Islão precisou
tanto do pensamento brilhante dos seus intelectuais medievais. Se é porque os
jornais calam o pensamento actual dos intelectuais islâmicos ou porque esse
pensamento não existe, não sei, mas o silêncio do Islão perante os crimes que
em seu nome se fazem é ensurdecedor.
Face a esse silêncio resta trazer à
memória as palavras de ouro de um do maiores pensadores ibéricos, um muçulmano
do século XII, Ibn al Arabi, nascido em Múrcia, na actual Espanha e que um dia
visitou Lisboa para se encontrar com Afonso Henriques, outro iniciado.
Ibn al Arabi foi um dos maiores, senão o maior,
mestres Sufi da península ibérica e encontramos ecos dele na poesia de São João
da Cruz e no misticismo de Santa Teresa de Ávila. Ouçamos então o mestre:
“O meu coração abriu-se
a todas as formas: é pastagem de gazelas, claustro do monge, templo de ídolos,
a Caaba do peregrino, as tábuas da Tora e o sagrado livro do Corão. O Amor é a
minha religião; qualquer que seja a direcção da caravana, a religião do Amor
será sempre o meu credo e a minha fé.”
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