A
eleição de Donald Trump já teve como consequência o alastramento da idiotice de
forma semelhante ao vírus da gripe. O facto de o homem poder vir a revelar-se
um dos piores presidentes que a América teve, senão o pior, não torna Obama o
melhor, como por aí já se vai lendo e escrevendo (não nos esqueçamos nunca que
foi a abstenção da “esquerda” que pôs Trump na Casa Branca). E depois vem o
clamor contra o nepotismo, a relação com as mulheres, o mau gosto, a falta de
dons de oratória…, etc. Como se Kennedy (esse sim, um dos melhores presidentes,
diversas vezes posto à prova) não tivesse sido o campeão do nepotismo, das
dúvidas sobre as origens da fortuna familiar e dos escândalos sexuais.
Falar
das coisas acessórias só serve para desviar a atenção das essenciais. A má
educação de Trump, a falta de cavalheirismo para com a mulher (que sabia muito
bem com quem casava), as amantes ou supostas amantes, o mau gosto, a fortuna
duvidosa, são acessórios que não o fazem, necessariamente, um mau presidente,
como o oposto não fizeram um bom, apesar do que se diz. Há coisas demasiado
importantes e perigosas na forma de fazer política de Trump que deviam merecer
a nossa melhor atenção. O resto é matéria para desviar atenções, não se vá dar
o caso de se descobrir que Trump partilha algumas ideias da esquerda bem-pensante
(anti-NATO, anti-Europa, nacional é que é bom…). Menosprezar Trump e trata-lo
como mentecapto será a pior das atitudes para quem o quer combater,
beneficiando-o aos olhos dos americanos que não leem a imprensa europeia e nova
iorquina, e que são a maioria.
Uma das
ideias de Trump que lhe tem valido maiores ataques é a do muro na fronteira
entre os EUA e o México. Enche-se a boca com comparações com outros muros,
nomeadamente o de Berlim, como se os muros de uma fortaleza se comparassem aos
de uma prisão! O muro na fronteira com o México é uma ideia que começou com
Clinton, concretizada em parte por Bush. Um terço daquela fronteira está já
murado com a aprovação de Obama e Clinton. Só o excessivo custo do mesmo, para
que se torne eficaz, tem impedido a sua concretização. Foi o dinheiro que
impediu a sua construção e não as boas intenções dos “bons” presidentes que
nunca deixaram de o querer construir. Por isso Trump enche a boca com a boutade de que serão os mexicanos a
pagá-lo, valendo-lhe o ódio dos críticos que ainda não tiveram olhos para ver o
que já se construiu, enquanto se esquecem que em Melilla mantemos um forte muro
para proteger a Europa de imigrantes indesejáveis.
Não me
parece que a solução para o problema migratório do México para os EUA passe
pela construção de um bom ou mau muro, mas este será certamente muito mais
barato e mais fácil do que as políticas necessárias para a resolução do
problema, desde logo libertar o México do absoluto controlo dos barões da
droga, e nisso têm os EUA o principal papel (leia-se o que Bolaño escreveu
sobre o assunto). Se Trump conseguisse (e quisesse) resolver esse problema
tornar-se-ia certamente num dos melhores presidentes dos EUA, apesar do mau
gosto, dos escândalos e da “grunhice”.
Trump
será um mau presidente por causa do ambiente, do Médio Oriente, do voluntarismo
irracional, do proteccionismo, da falta de apoio aos mais necessitados, da
desregulação das empresas, da tortura, das listas e da corrida ao armamento. A
construção de um muro é o menor dos problemas e pouco afectará a vida dos
mexicanos e dos americanos, para além do desbaratamento do erário público,
enquanto que o proteccionismo, que deixará os sindicatos americanos contentes e
muita gente deste lado do mar a concordar com a cabeça, será terrível para os países
periféricos como o México e que dependem do mercado americano.
imagem daqui:
https://goo.gl/images/GF362S
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