Passos Coelho tem
razão quando diz que não tem de ser muleta do governo: Costa propôs-se a
governar desprezando o apoio do PSD e negando-lhe o apoio para que governasse,
aliando-se com partidos que têm da economia e da Europa ideias que se
distanciam das do PS como Fátima de Meca. É justo que peregrine agora sozinho,
escolhendo o santuário que mais lhe convém. (A referência a Fátima nada tem a
ver com o facto de a Câmara de Ourém poder agora fazer obras de milhões de
euros por ajuste directo só porque o Papa Francisco se lembrou de a visitar em
ano de eleições, quando todos sabem que é preciso preparar a rotunda dos
pastorinhos para resistir às invectivas do padre Mário da Lixa e do músico
Pedro Barroso).
Passos Coelho é incoerente porque recusa agora
uma medida que antes adoptou. Incoerência, aliás, igualzinha à de Costa que
agora propõe uma medida que, em concertação com a esquerda, disse que não
tomaria, fiando-se que podia ter parceiro com quem recusara concertação. Não
fosse a falta de jeito de um e o atrevimento de outro e diríamos que foram
separados à nascença.
A diferença entre um
e outro está na comunicação e na apresentação, ou não vivêssemos nós numa
sociedade do espetáculo, onde o primeiro-ministro assume por inteiro a presença
cénica de um corifeu, por isso Coelho lhe chamou “encantador de serpentes”, sem
nenhuma alusão irónica às suas origens ou aos turbantes. Mas tal como no teatro
o actor mais experimentado engole os outros, Passos arrisca-se a ser servido à la sauce moutarde: querendo fugir do
charme do encantador, deixa-se engolir pela serpente, descobrindo, tarde
demais, que serpente e encantador são um só.
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