A minha noção de economia e de
finanças nunca evoluiu para além da noção de escambo. Quando um milionário
gasta uma fortuna por bens ou serviços canalizando o dinheiro para o pagamento
do trabalho gasto na execução daquele bem ou serviço, nenhuma objecção levanto,
desde que o dinheiro do milionário tenha sido adquirido dentro das regras
legais e morais. É que o único valor que reconheço é o do trabalho. Não sei se
é marxismo porque os únicos tratados de economia que li resumem-se aos
Evangelhos e ao livro de Actos do Novo Testamento. Por essa razão não consigo
imaginar a moeda como mercadoria em si e a especulação bolsista é para mim como
a mais demoníaca das artes de macumba.
Gosto imenso de Picasso e ainda me
lembro do primeiro quadro que vi do genial pintor: um pastel que fora adquirido
pela galeria de arte de Johannesburg, no Joubert Park. Depois foi um
deslumbramento quando em Málaga vi um dos maiores acervos do Malaguenho.
Aprecio passear-me em qualquer galeria de arte e ninguém me poderá acusar de
filisteu: inculto sim, mas amante da arte e com desprezo quanto baste pelos
interesses materiais. Por isso entendo que um artista deve ser pago pelo valor
e mérito do seu trabalho, esgotando-se nesse pagamento o preço da obra. A
especulação sobre o valor da arte e o consequente enriquecimento à sua custa é
uma grosseria contra a arte e uma ofensa ao esforço de quem trabalha. Qualquer
especulação do valor de um bem é um insulto e um roubo.
Transaccionar-se “As mulheres de
Argel” por 160 milhões de euros é algo que só posso considerar obsceno. É que
nem as mulheres nem a arte podem ter preço e o porto de Argel há muito que
deixou de ser um centro de pirataria.
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