quarta-feira, 22 de outubro de 2014

DEUS E O SEXO

 

Sabendo nós onde costumam ir parar as boas intenções, não deixei de me preocupar com o testemunho de um grupo de casais jovens, intitulando-se casais católicos, em defesa do casamento como Sacramento. São intenções louváveis as que pretendem para si, não sou eu quem o contestará. Dizem que se devem entregar ao amor conjugal aceitando como dádiva de Deus toda e qualquer consequência (leia-se filhos) e, por isso, entendem que os filhos não podem ser planeados como quem planeia as férias ou a compra de uma casa. Sendo assim só os métodos “naturais” devem ser permitidos numa relação sacramental, como se acredita ser o casamento entre os católicos (os cristãos da Reforma só aceitam os instituídos por Cristo: o Baptismo e a Comunhão). Acrescentam os bondosos jovens casais que tudo isso não lhes saiu das lindas cabecinhas, porque singelas, mas aprenderam nos Evangelhos, no Novo Testamento e nas encíclicas papais.

Pensam assim que o sexo pode ser feito com prazer mas só quando serve um propósito que não esse prazer, assim como comer e beber só quando se tem fome e sede, como se o primeiro milagre de Jesus não tivesse sido a transformação da água em vinho, precisamente numa festa de casamento, para dar de beber a uma multidão de bêbados que se tivessem sede beberiam água!

Eu e a minha mulher, que somos católicos por convicção e casal porque assim o entendemos, planeámos os filhos não como quem planeia as férias ou a compra da casa. É que nessa altura só sabíamos como planear os filhos porque as férias e a compra de casa estavam fora do nosso alcance pelo que não serviu de termo de comparação, como parece ser o caso daqueles jovens felizes e bem-parecidos. Quererem os jovens e bondosos casais impedir que a Igreja se abra e deixe de considerar pecado a contracepção artificial parece-me daquelas boas intenções que enchem o Inferno de muita gente. Já agora acrescento que no meio de tanta entrega usar os métodos naturais cheira-me a grosseira batotice. Então o Senhor, na sua infinita misericórdia, desperta os instintos mais naturais do macho através das feromonas da sua fêmea em ovulação e vocês, macho e fêmea, recusam o chamamento da natureza que é o mesmo que dizer, Divino?! Parece-me mal! Não vale tirar trunfos da manga porque Deus tudo vê!
 
        Quanto aos Evangelhos e ao Novo Testamento, meus caros, convém reler a matéria. É que Cristo nada disse sobre o comportamento sexual de casados e não casados (uma chatice fazer sexo sem compêndio adequado) a não ser que evitassem babarem-se para cima da mulher do vizinho, numa clara referência à hipocrisia de quem se faz passar por santo. Falou do divórcio, bem sei, mas tornem a ler e a contextualizar e verão que o assunto tinha tudo a ver com a questão sócio económica da mulher abandonada e nada a ver com as questões do sexo ou indissociabilidade do casamento. Quanto ao São Paulo, apesar da sua profunda misoginia, lá foi dizendo que era melhor casar-se que abrasar-se e depois deu uns conselhos com o devido cuidado de referir que nada daquilo que dizia tinha sido o Senhor quem lhe sussurrara, mas que era ele, como homem, que achava por bem aconselhar. Se todos tivessem seguido os conselhos de Paulo já não haveria cristãos e muito menos católicos.

 Fazer interpretações daquilo que Cristo não disse ou que São Paulo disse com reservas parece-me o mesmo que inferir que Jesus e João tinham um caso porque este último deitava a cabeça sobre o peito de Jesus que lhe chamava: discípulo muito amado (Jo13,23-25), e lá se ia o casal macho e fêmea como vocês tão bem quiseram sublinhar na vossa amável tomada de posição.

 Jesus preocupava-se mais com os pecadores do que com os pecados, por isso, caros jovens casais, façam sexo com toda a entrega que entenderem por bem, mas não definam para os outros o que é pecado e anti sacramental que São Paulo a tanto não se atreveu.
 
Imagem existente no portal da Sé de Lamego roubada daqui:





4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como gostei e senti a tão verdade que é aquilo que escreve é pena esses casais e muito mais não tenham acesso a este texto, não me deu o riso mas sim um sorriso por haver alguém que sabe transpor às vezes o que sinto.

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