sexta-feira, 4 de julho de 2014

APALACHES, AS NOVAS ASTÚRIAS?

 

“O ruir da Europa será o ruir de um dos mais extraordinários movimentos humanistas da história” – Cunha Rodrigues


Cegos pelos passes de Cristiano e de Messi no sertão brasileiro ainda não reparámos que o mundo está em efervescência nas nossas costas. Parece, quase de certeza diz alguém que sabe, que as ajudas em armamento e outros meios que o Ocidente dispensou aos rebeldes da Síria foram parar às mãos dos que agora querem tomar conta do Iraque para restabelecer o Califado. O próprio recrutamento para o desiderato faz-se nas ruas de Madrid por quem ali se recolheu vindo de Guantánamo, libertado graças ao trabalho generoso e cheio de boas intenções dos juízes espanhóis.

O Ocidente, e em particular a Europa, entrou em decadência, já se percebeu. Depois de termos criado uma sociedade um pouco mais justa e democrática, que outras culturas e tradições não lograram, envergonhamo-nos do nosso passado e já nem convicções temos. No deserto em que nos tornámos, transformam-se igrejas em bares, em museus e em bibliotecas. Espaço de lazer e de arquivo assim se vai tornando a Europa aproveitando a beleza criada por uma espiritualidade que já não tem. O emir do Qatar, homem que não se envergonha das suas fortes convicções, aproveita o vazio e tenta comprar a abandonada praça de touros de Barcelona para a transformar numa enorme mesquita. Este é o resultado de gente que tem da História a visão de Hollywood e que de Geografia conhece apenas os painéis de partidas e chegadas dos aeroportos. Sem perceberem onde ficam os Himalaias e o cabo da Roca, fronteiras do império islâmico conquistadas em menos de cem anos após a morte do Profeta Maomé, culpam a Europa cristã pelo pecado das cruzadas, desconhecendo que essa Europa à época, e setecentos anos após a morte de Cristo, ainda tinha o Norte do Báltico e o Leste do Danúbio por converter, revelando-se muito menos eficaz e guerreira do que o Islão. Se acrescentarmos a isto o facto de as cruzadas se terem iniciado somente trezentos anos após a chegada dos árabes aos Pirenéus percebemos a imensa boutade que é o pensamento que nos culpa de todos os males do mundo. Essa gente de boa vontade mas de espírito ingénuo, que vai dizendo que o Andaluz podia ser mais mourisco, esquece que Constantinopla/ Istambul era cristã e herdeira de Roma na mesma época em que o Andaluz deixou de ser mouro. O resultado dessa ignorância está à vista.

Assim como os visigodos partidários de Vitiza, sem perceberem o alcance do seu gesto, abriram as portas da Península aos Árabes para derrotarem Rodrigo, assim o nosso dinheiro, ajuda e distracção abre agora as portas a um novo Califado. O Atlântico não permitirá que façamos dos Apalaches as novas Astúrias pelo que ou a Europa se reinventa ou terá nome asiático nas próximas décadas.

Se alguma dúvida restasse, a homenagem que os sérvios acabaram de fazer ao homem que há cem anos foi o gatilho da primeira guerra mundial, diz bem do manicómio em que este continente se transformou.



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