“O ruir da Europa será o ruir de um
dos mais extraordinários movimentos humanistas da história” – Cunha Rodrigues
Cegos pelos passes de
Cristiano e de Messi no sertão brasileiro ainda não reparámos que o mundo está
em efervescência nas nossas costas. Parece, quase de certeza diz alguém que
sabe, que as ajudas em armamento e outros meios que o Ocidente dispensou aos
rebeldes da Síria foram parar às mãos dos que agora querem tomar conta do
Iraque para restabelecer o Califado. O próprio recrutamento para o desiderato
faz-se nas ruas de Madrid por quem ali se recolheu vindo de Guantánamo,
libertado graças ao trabalho generoso e cheio de boas intenções dos juízes
espanhóis.
O Ocidente, e em
particular a Europa, entrou em decadência, já se percebeu. Depois de termos
criado uma sociedade um pouco mais justa e democrática, que outras culturas e
tradições não lograram, envergonhamo-nos do nosso passado e já nem convicções
temos. No deserto em que nos tornámos, transformam-se igrejas em bares, em
museus e em bibliotecas. Espaço de lazer e de arquivo assim se vai tornando a
Europa aproveitando a beleza criada por uma espiritualidade que já não tem. O
emir do Qatar, homem que não se envergonha das suas fortes convicções, aproveita
o vazio e tenta comprar a abandonada praça de touros de Barcelona para a
transformar numa enorme mesquita. Este é o resultado de gente que tem da
História a visão de Hollywood e que de Geografia conhece apenas os painéis de
partidas e chegadas dos aeroportos. Sem perceberem onde ficam os Himalaias e o
cabo da Roca, fronteiras do império islâmico conquistadas em menos de cem anos
após a morte do Profeta Maomé, culpam a Europa cristã pelo pecado das cruzadas,
desconhecendo que essa Europa à época, e setecentos anos após a morte de
Cristo, ainda tinha o Norte do Báltico e o Leste do Danúbio por converter,
revelando-se muito menos eficaz e guerreira do que o Islão. Se acrescentarmos a
isto o facto de as cruzadas se terem iniciado somente trezentos anos após a
chegada dos árabes aos Pirenéus percebemos a imensa boutade que é o pensamento que nos culpa de todos os males do
mundo. Essa gente de boa vontade mas de espírito ingénuo, que vai dizendo que o
Andaluz podia ser mais mourisco, esquece que Constantinopla/ Istambul era
cristã e herdeira de Roma na mesma época em que o Andaluz deixou de ser mouro. O
resultado dessa ignorância está à vista.
Assim como os visigodos
partidários de Vitiza, sem perceberem o alcance do seu gesto, abriram as portas
da Península aos Árabes para derrotarem Rodrigo, assim o nosso dinheiro, ajuda
e distracção abre agora as portas a um novo Califado. O Atlântico não permitirá
que façamos dos Apalaches as novas Astúrias pelo que ou a Europa se reinventa
ou terá nome asiático nas próximas décadas.
Se alguma dúvida
restasse, a homenagem que os sérvios acabaram de fazer ao homem que há cem anos
foi o gatilho da primeira guerra mundial, diz bem do manicómio em que este
continente se transformou.
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