É sabido que a França atingiu um pico de prosperidade
no reinado de Luís XIV, o rei absoluto. De entre as industrias que se
desenvolveram, a do luxo e da moda devem tudo ao rei que gostava de se mascarar
de Sol e que obrigava a nobreza a trajar “decentemente”, contrariando a
mesquinhez e sovinice de alguns. Moliére, um protegido do rei amante das artes,
retratou, em “O avarento”, o tipo de gente rica que não gasta o que tem.
Desse mal, da sovinice, não sofria o rei Luís que
resolveu criar um novo cargo na corte: Grand
Maitre de la garderobe du roi. O oficial do cargo tinha como única e
exclusiva função cuidar do guarda-roupa de sua Majestade.
Se o rei desenvolvia as artes e os ofícios,
tornando-se seu mecenas, então que toda a nobreza lhe seguisse o exemplo. Ordenou
que toda a nobreza passasse a estar sempre na moda. Os nobres, aflitos,
passaram a gastar balúrdios com casacas, vestidos, rendas, sapatos, botas,
perucas, luvas, etc., mais o perfume que devia mudar todos os dias… E porque
tais ataviados e arrebiques não se dão bem com o pó das ruas, lá vinha
carruagem condigna mais a parelha de luzidios alazões, para alegria de
correeiros, ferreiros e outros mecânicos que tais!
A indústria agradeceu e encarregou-se de inventar sempre
novas modas para desespero dos chefes de família.
O rei, magnânimo, não ficou por ali. Decidiu que
qualquer pessoa, independentemente da sua classe social, podia entrar nos
jardins de Versalhes desde que vestida à moda e com o luxo que convinha ao
local, podendo assim admirar os numerosos eventos aí ocorridos, o carrossel, e
até ver o rei passeando com Madame de
Maintenon toda de seda chiffon!
Escusado será dizer ao leitor, amargurado com a
austeridade, e desabituado do brilho de lantejoulas e lamés, que o incremento da indústria foi enorme, sendo a moda e o
luxo um dos legados que dá lucro à França e alimenta e dá trabalho a muito
pobre por esse mundo fora.
O rei subsidiava assim a industria obrigando a
nobreza e a classe média a consumir. Alimentando a vaidade, evitava o
ressentimento dos ricos face a este imposto disfarçado.
Leio agora que sua majestade, a rainha das Espanhas,
não dá festa de aniversário por causa da crise, e que a princesa parvenu inglesa veste na Zara e, pasme-se,
repete sem vergonha a toilette, como
vulgar menina do shoping.
Perde a indústria o cliente e os outros, vendo-se
assim desobrigados, guardam o dinheiro levando à ruína comerciantes e
industriais, criando mais desemprego.
Os media exultam e, no meio da demagogia, exultam os
pobres que julgam ver os ricos com eles irmanados. Nada mais falso.
O que é que nós, os pobres, ganhamos com isso? Ou
mais correctamente: O que é que vamos perder com isso? Porque, ou acabamos com
os ricos ou obrigamo-los a gastar o que têm.
A função de uma princesa é alimentar os nossos
sonhos. Com isso gera emprego e diverte-nos. Não cumprindo a função, só resta aos
pobres cortar-lhes na renda, para não lhes cortar noutras coisas…
Não é poupando que um rico
se faz pobre, mas gastando.
O povo que lhes paga a renda, deve exigir-lhes o
cumprimento do que é próprio à função, porque um modelo Dior numa princesa é uniforme de estado! A última coisa que
precisamos para sair da crise é uma princesa pindérica.
Basta de austeridade. Abaixo
as princesas da zara.
Notícia dos media: Kate Midleton veste modelo da
Zara.
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