O muro de Berlim caiu faz hoje 24 anos. Foi derrubado
por todos aqueles que se atreveram a passá-lo e deram a vida por isso. Se não
fosse a sua coragem e o seu amor à liberdade, talvez hoje ainda lá estivesse. O
que se pode dizer mais?
Cunhal faria amanhã 100 anos. Não sei se justificou o
muro, mas o partido a que presidiu e o seu órgão de informação justificaram,
como justificaram os crimes do regime que defendiam. Pior, expulsaram quem não
se calou e não justificou!
A luta pelos seus ideais não podia justificar o
silêncio e muito menos a defesa dos atentados à liberdade, como o daquele muro
que caiu.
É difícil falar mal de Cunhal. Como formigas ou
vermes somos esmagados pela bota enorme que é a história da sua vida. A sua
coragem e o seu desprendimento calam-me toda a revolta contra os seus crimes,
que me estala no peito.
E que crimes cometeu Cunhal? O silêncio sobre os
crimes que os regimes comunistas cometeram é o seu maior e, talvez, o seu único
crime.
Pecado grande é o da omissão. Talvez um dos maiores.
Camus, que também nasceu há 100 anos, um comunista
que não mentiu nem silenciou, disse, ao receber o Nobel, que havia dois
compromissos difíceis de manter, mas ambos imperativos: a recusa de mentir sobre aquilo que sabemos e a resistência à opressão.
Cunhal cumpriu um desses imperativos.
Cunhal talvez mereça que falem bem dele. Eu não
consigo.
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