A Union Jack flutuava sobre Buckingham palace, significando que Sua
Majestade estava ausente, o que considero desconsideração por quem, como eu,
visitava Londres 14 anos depois da primeira vez. No Hyde Park gozava-se e aproveitava-se a tarde de um domingo
soalheiro. De Hyde Park a Buckingham foi o tempo de o dia anunciar
o crepúsculo com um aguaceiro de fim de tarde de domingo a despejar Saint James’s park, deixando vazias as
cadeiras de lona, enquanto casais de namorados aproveitavam o aconchego de um
único chapéu de chuva. Londres, como num postal!
Mayfair, Soho
e Convent Garden continuam iguais a
si próprios, excepto pela obsessão mimada por comer saudavelmente que vai
invadindo tudo e todos. A globalização destruiu o charme e o glamour destes locais. Pode-se comprar
loiça das Caldas em Mayfair e as
lojas do Soho têm sucursais nas
nossas cidades de província. Os alfaiates de Saville Row entram-nos em casa, todas as manhãs, nos casacos do
Goucha.
Elephant and Castle, onde ficámos, Peckham e Brixton a
revelarem-se um postal londrino pouco turístico mas mais antropológico. O pub
londrino onde jantámos em Peckham,
não podia ser mais inglês, apesar da multietnicidade, parecendo saído de uma
sitcom sem visitas de uma qualquer ASAE. Nestes bairros a integração parece uma
possibilidade, mas não é assim noutras zonas periféricas da cidade, e no centro
habita o mundo inteiro. Foi uma mulher de hijab
quem nos conduziu, num New Routemaster,
até Camden que, com a cultura punk extinta, já não intimida um rapaz
provinciano como eu, e é hoje um repositório de memorabilia para turistas.
Passeando
pelos canais de Londres, desde Camden
até King’s Cross, aprecie-se o
excelente e novo projeto urbanístico de recuperação e reabilitação das velhas
estruturas metálicas dos gasómetros: o Gasholder
Park. E falando de urbanismo não esquecer o excelente trabalho feito, há
algumas décadas, em Barbican, bem no
centro de Londres, e o que se prevê para a recuperação das áreas degradadas de Elephant and Castle.
Mas é a
City que mostra toda a sua pujança, apesar do Brexit. As torres constroem-se como cogumelos, fazendo sombra ao Lloyd’s e ao 30 St Mary Axe (supositório) que já mal se vê ao lado dos gigantes
desta década, sem respeito por cérceas ou distâncias seguras em caso de
sinistro. Mas é um prazer visitar as praças e prédios de Broadgate onde a Vénus de Botero mostra a sua gorda beleza em jeito
de símbolo burguês do poder económico. É aqui que o contraste entre o pobre e
popular bairro “fora de portas”, como Whitechapel,
e o moderno centro financeiro nascido na velha cidade romana se faz sentir, na
distância que separa os dois lados de uma rua.
Sem
contarmos com os semáforos de Trafalgar
square a apelar à inclusão homossexual e transgénero, e dos novos símbolos transgénero
dos sanitários do Tate Modern,
Londres tem uma nova atracção, já com cinco anos de idade, e não fica na City nem em Mayfair, mas em Southwark:
Um estilhaço de vidro apontado ao céu, The
Shard, é o belíssimo arranha céus do italiano Renzo Piano, que nos acolheu
logo à chegada.
Londres continua
a mais viva, moderna e vibrante cidade europeia.
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