domingo, 26 de março de 2017

À SOMBRA DAS TÍLIAS OU DOS JACARANDÁS HÁ SEMPRE ONDE GASTAR O DINHEIRO DE UM HOLANDÊS


Há três anos visitei Berlim. Se fosse berlinense, visitasse Lisboa e visse as obras nos pavimentos das suas avenidas ficaria pensando por que raio Berlim não tem pavimentos tão bons e bonitos. É certo que Berlim era um estaleiro quando desembarquei no seu velho e antiquado aeroporto, ainda não substituído pelo novo que se encontra incrivelmente atrasado. As velhas tílias sobreviventes dos bombardeamentos tremiam à passagem dos bulldozers, e o telhado da mais famosa sala de concertos, a Filarmonia, metia água. Por isso não sei se a Uter den linden ficou tão linda como o Cais do Sodré ou como a Avenida da República com as suas tipuanas e jacarandás. Tenho a certeza que o berlinense que nos visitasse não daria razão ao holandês, e confirmaria que o dinheiro não é gasto em bebidas e muito menos em mulheres. Um país de trolhas tem sempre obras onde gastar neste imenso resort em que nos transformaram. Logo, logo irão terminar uma parede lá para o lado da Ajuda, cuja falta para a cidade é igual à de uma viola num enterro.
Em todo o caso, o sistema público de transportes de Berlim é fantástico, enquanto em Lisboa já é um prazer andar a pé e de bicicleta, pelo que ninguém precisa de uma boa rede de transportes públicos, e sempre fica mais barato ao cidadão que pode assim gastar o dinheiro noutras coisas.
Entre a sobriedade calvinista e luterana e o gosto barroco dos católicos existe uma disputa que se acentuou quando católicos e protestantes deixaram de estar dispostos a pagar “indulgências” para as obras do estado. É que ninguém se salva pelas “obras”, dizem eles e a epístola aos Efésios!

Foto: túmulo de Frederico II da Prússia, “O Grande”

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