Decidi
iniciar uma rubrica de culinária bíblica e nada melhor para isso do que ir ao
princípio. Porque estamos perto do dia dos namorados, calha bem um prato doce
preparado pelo amoroso casal do Éden.
"Génesis 1, 29: Deus disse: «Também vos dou todas as ervas
com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de
fruto com semente, para que vos sirvam de alimento."
Foi no
princípio, depois do fiat lux, que o
Senhor Deus plantou um jardim lindíssimo por onde gostava de passear pela brisa
da tarde. Por faltarem elementos decorativos ao jardim não pensou em mais nada,
senão em lhe prantar uma Eva e um Adão, que são coisas que ficam sempre muito
bem num jardim. O senhor Deus, como toda a gente sabe, é vegan e vai daí disse à Eva que só podia cozinhar ervas e frutos.
Carne, só a do Adão. A este disse-lhe a mesma coisa e quanto à carne que
provasse a da Eva. Só muito tempo depois, quando Noé encalhou a sua arca nas
montanhas do Cáucaso, é que foi permitido ao homem e à mulher serem carnívoros,
mas isso fica para outro dia.
O que
comiam Adão e Eva? De todas as árvores, plantas e ervas que hoje conhecemos a
única de que há notícia que existisse no jardim que o Senhor Deus plantou, é a
Figueira, pois foi com as folhas desta última que a Eva inventou os primeiros modelos
da victoria secret. A história da
maçã é uma aldrabice do tradutor grego, que inebriado pela sensualidade do
Cântico dos Cânticos da Bíblia, decidiu colocar a maçã entre a serpente e a
mulher, sem pedir autorização ao Criador. Portanto, é por força que Eva tenha
preparado um prato de figos, deixando que Adão lambesse os dedos...
A
receita que aqui deixo é, de fonte fidedigna, exactamente a que Eva cozinhou
com uma única excepção: em vez do forno, Eva deixou a secar ao Sol, porque já
tinha pedido a Adão que lhe construísse um forno e todos sabemos que quando se
pede a um homem que faça alguma coisa, ele fará e não é preciso estar
constantemente a lembrar-lho.
Eva
chegou-se à figueira, de onde mais tarde tiraria as folhas para se cobrir, e
colheu um bom punhado de figos bem fresquinhos e abriu-os ao meio. Porque
estava no Jardim do Paraíso, havia por perto uma colmeia de onde retirou o mel e
espalhou-o pelos figos. Junto a uma penha virada ao Sol, mesmo ali perto, e por
onde se despenhava em graciosa cascata o rio que atravessava o jardim, cresciam
ao sol as tímidas hastes de um tomilho que graciosamente foi colhido pelos
dedos de Eva, que fez espalhar as suas folhas sobre os figos já ensopados em
mel. Então Eva colocou os figos, adoçados em mel e temperados com o tomilho, ao
sol quente de verão. O leitor/a, coloque-os sobre a folha de um papel vegetal
no tabuleiro do forno, e deixe assar e caramelizar.
Adão
provou-os enquanto saboreava, com a vista gulosa, o desenho clássico dos seios
da primeira mulher, saídos das mãos do Escultor divino, e não foi pecado nenhum.
O caro leitor/a acompanhe (os figos) com um bom queijo de qualidade, gorgonzola
por exemplo, e um pouco de presunto, mas só quando tiver a certeza que o Bom
Deus esteja distraído, por causa do queijo e do presunto que não eram
permitidos no Paraíso vegan e gluten free.
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