Uma das mais antigas e
interessantes tradições musicais é a canção de embalar. Lullaby ou cradle song em
inglês, berceuse em francês ou wiegenlied em alemão. A sua função
principal é adormecer os bebés, mas servem também para passar a tradição e a
cultura, e sobretudo reforçar os laços entre mãe e filho, no pressuposto que
devem ser as mães a embalar os filhos ao som de uma canção, mas os pais podem
fazê-lo. Eu cantava para os meus filhos a ária da Madame Butterfly, “Un bel di vedremo”. Um baixo tentando
cantar árias de soprano…! Só o psicanalista poderá avaliar os estragos
causados.
Tem reconhecido valor
terapêutico. Devem ser melodias simples, com intervalos consoantes uma vez que
se provou que os bebés perdem o interesse com as dissonâncias. A preferência
vai também para canções sem qualquer acompanhamento musical, pois o bebé
fixa-se melhor no som da articulação das palavras.
Tive a sorte de ouvir
muitas vezes a minha mãe cantar-me canções de embalar. Era sempre a mesma, em
inglês, “rock-a-by baby”. Até hoje
não faço a mínima ideia da letra (já a achei na internet). A minha avó, que era
inglesa, cantava em português a canção brasileira: “Encosta a tua cabecinha ao
meu ombro e chora”, e nós adorávamos, mas já éramos granditos para embalos ao
peito.
Hoje já não se canta em
casa, junto ao berço ou no trabalho e é uma pena. Põe-se os phones nos ouvidos ligados ao telemóvel,
e adiante. Há tanto curso para futuros pais, mas nenhum que os ensine a cantarem
canções de embalar aos filhos. Devia ser obrigatório. Nenhuma criança devia
sair da maternidade sem que os pais fizessem prova de canto! À atenção dos
senhores governantes.
Uma das canções de
embalar mais famosa é o wiegenlied de
Johannes Brahms, que aqui deixo como inspiração para os futuros pai e mãe da
família. Para estar em linha com a modernidade da igualdade de género e das
famílias alternativas, a versão é cantada por dois homens. O importante é que
cantem para os vossos filhos.
As canções de embalar que nos cantam, são melodias que ficam para a vida. Ainda tenho algumas na memória.
ResponderEliminarAgora essa de nenhuma criança poder sair da maternidade sem os pais terem lições de canto, ai coitada da minha, ainda hoje lá estava. Eu não acerto uma nota, tinha de ser o pai a salva-la.
Fez-me recordar um episódio. A Joana tinha 5 ou 6 dias, tive de sair ela ficou com o pai e a minha mãe. Quando cheguei a avó cantava e embalava-a, o pai tocava viola e ela chorava a plenos pulmões.
Já me ri. Há sempre gente com sentido crítico muito apurado, logo desde pequeninos. Mas sempre vou adiantando que não é caso para o futuro avô desistir e deixar de pôr as cordas de novo na viola.
Eliminar