quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

UM CRUZADOR CHAMADO DÉFICIT


Em 1890 a infame Inglaterra lançou a Portugal um ultimato, intimando o nosso país a abandonar o território situado entre Angola e Moçambique que fazia parte do famoso mapa cor-de-rosa (com um nome destes e queríamos que nos respeitassem). Portugal tinha, a fazer fé numa nota do Fórum Defesa, um único navio de guerra: o Mindelo com 6 peças e 2 rodízios (seja lá isso o que for) e uma tripulação de 120 valentes e briosos marinheiros. Maria da Fonte e as mulheres que a acompanhavam estavam tolhidas pelo reumático ou já tinham falecido, pelo que não houve outro remédio senão capitular. As boas consciências nacionais não perdoaram o rei, que capitulava no plano político para livrar o país de uma humilhação maior no campo de batalha, e, na falta de orçamento de estado cujo deficit é endémico em Portugal desde a entrega do dote de D. Catarina de Bragança e o esbanjamento do ouro do Brasil na compra dos carrilhões de Mafra, vai de organizarem uma subscrição para a compra de um navio de guerra que fizesse tremer de medo a poderosa Inglaterra cuja armada se gabava de ter, pelo menos, um dos seus navios em quase todos os portos do mundo. Conseguido o dinheiro mandou-se fabricar o navio, não em Inglaterra como de costume, mas na Itália, talvez por influencia da belicosa rainha viúva, uma italiana de pelo na venta que custava a aturar a pusilanimidade do marido e do filho e que um dia ameaçou de morte o Duque de Saldanha, mas isto sou eu e a minha imaginação.

Em 1897, com o país distraído com as visitas de Suas Majestades e esquecido já da humilhação, chega à barra do Tejo um potente cruzador de 10 peças, duas metralhadoras, 3 tubos lança torpedos e uma guarnição de 206 homens. Custou-nos o equivalente a oito milhões de euros e o governo, um pouco assustado, logo o baptizou de Adamastor: os ingleses que se cuidassem!

Viajou do Brasil ao Japão, passando por Timor, mas a primeira vez que as suas peças abriram fogo foi, não para afundar a armada britânica, mas para bombardear, no fatídico dia 5 de outubro de 1910, o palácio das Necessidades, residência oficial de D. Manuel II, filho do rei que não quis dar batalha aos ingleses. Seguir-se-ia uma brilhante carreira contra os alemães no Norte de Moçambique, durante a 1ª guerra Mundial, alemães que, não obstante a derrota na guerra e o cruzador Adamastor, lograram vencer todas as batalhas travadas em África.

Já não temos o Adamastor, mas temos dois submarinos e só não os mandamos a Bruxelas porque a capital europeia não tem praia. Resta-nos o Arménio Carlos para ir à Europa ameaçar que ou nos aprovam o orçamento ou, ou, ou…

Cá por mim julgo que está na hora de mais uma subscriçãozinha para um cruzador chamado deficit!

2 comentários:

  1. Naquela época esbanjavam dinheiro,mas as coisas ainda hoje existem.
    Hoje em dia esbanjam e as coisas estão escondidas nos bolsos deles.

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  2. É verdade. Não fica nada para amostra.

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