Por pudor não tenho
trazido para aqui o drama dos refugiados que acorrem à Europa. Também por pudor
sinto sempre alguma vergonha quando dou uma esmola. Independentemente dos meus
pruridos aquela esmola é bem vinda por quem a pede, mas a esmola é sempre pouca
e eu podia fazer mais e melhor daí o meu desconforto.
Tenho a certeza que a
maioria de nós não se moverá do sofá para ir em socorro dos refugiados. Mas também
tenho a certeza de que a maioria de nós, passeando de barco, deitaria a mão a
quem quer que fosse que se estivesse a afogar. Não haveria nesse gesto nada de
heróico ou louvável. Seria simplesmente um acto que nos distinguiria como
humanos. O contrário seria uma monstruosidade, punível até pela Lei de qualquer
estado de direito. No nosso código penal é punível com pena de prisão até um
ano.
Pessoas bem situadas na
vida, passeando de barco pelo Mediterrâneo, salvaram uma vítima de afogamento
com quem se cruzaram no passeio. Um refugiado caído à água. Tiraram uma foto
abraçados à vítima e colocaram em tudo o que é rede social. Depois receberam
louvores de heroicidade e de solidariedade por um gesto que, repito, é obrigatório
num estado de Direito. Pareceu-me uma obscenidade quase pornográfica. Quando a
desgraça dos outros serve para o nosso aconchego do dever cumprido, devidamente
publicitada, algo falhou nos nossos valores. Senti vergonha por aquela foto.
Mateus 6,3
Ai... este assunto é de cortar o coração a qualquer um.
ResponderEliminarQuanto a este tipo de solidariedade não digo o que penso ou ainda sou censurada.
Compreendo perfeitamente o que quer dizer. Aquela foto "aconchegante" tirou-me do sério.
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