No rescaldo do concerto no museu
Malhoa, protagonizado por um coro masculino de Inglaterra onde cantavam também
dois escoceses que não se distinguiriam dos demais não fosse o saiote feito por
um português aqui da zona Oeste, dei por mim a pensar naquela união que foi
agora a referendo.
Tudo começou quando em 1603 o rei
Escocês se tornou rei de Inglaterra. Em 1706 o parlamento escocês e o
parlamento inglês decidiram de comum acordo, já que tinham as duas coroas na
mesma cabeça, auto-extinguir-se e formar um único parlamento. Nascia o
Reino Unido.
No final do século XX, quando o
escocês Tony Blair era primeiro-ministro do Reino Unido, a “oprimida” Escócia
teve direito a um parlamento. Ao escocês Tony Blair havia de suceder outro
escocês, Gordon Brown e os ingleses, malandros, além de terem de aturar dois
primeiros ministros escoceses, acatavam as leis do parlamento do Reino Unido
feitas por ingleses, escoceses, galeses e irlandeses que valem na Inglaterra e
no resto da União. O parlamento escocês, onde só cabem os habitantes da
Escócia, decide se aquelas valem ali ou não. Isto é: os escoceses têm um
parlamento próprio. Os ingleses não têm. Acatam assim as leis votadas por
todos, ingleses e não ingleses. Os escoceses, não.
Os adeptos do sim, no referendo pela
independência (que deveria chamar-se mais apropriadamente de secessão),
mantiveram o bom senso e, sensíveis ao ridículo, sabendo bem que o petróleo,
como o Inferno, está cheio de boas intenções, decidiram não chamar ao debate o
fantasma de William Wallace, celebrizado no Braveheart. Já os comentadores
portugueses, na sua sanha opinativa e em defesa dos povos oprimidos, entre dois
goles de um puro malte fabricado na república Dominicana, foram buscar o Mel
Gibson e o Rob Roy, o Zé do Telhado lá do sítio, para falarem em nome dos
escoceses oprimidos pelos ingleses filhos da pxxx. Os Escoceses, não se
esqueçam, são aqueles que têm um parlamento próprio enquanto que os Ingleses
não têm parlamento nenhum e acatam as leis votadas pelos escoceses no
parlamento comum.
Eu estou-me nas tintas para os
escoceses e para os ingleses mas invejo-lhes contudo o bom senso. A estupidez
viajou democrática e generosamente entre a esquerda e a direita portuguesas e
pouco faltou para que os comentadores pintassem a cara à moda dos Pictos, o que
me põe a pensar que bom seria ser escocês, não fosse aquela parvoíce de andar
de saias…! Afinal a bandeira da Escócia é igual à do Afonso Henriques não fosse
a rotação de 1/8 de volta, o que lhes dá o mesmo direito que aos galegos, que
também tocam gaitinhas, de se juntarem a nós e nós a eles!
Ficamos agora de pausa aguardando a
novela catalã. Gaudi, o profeta de Barcelona, sabedor da estupidez que por aí
grassa e antes que lhe estragassem a obra, construiu a sua basílica com torres que
se confundem com minaretes, pelo que é meio caminho andado.
Um dia destes faço-me madeirense e
ponho-me a gritar contra a república colonialista. Assim como assim sou tão
africano como eles e as bananas servem para comer enquanto que o petróleo não!
Eu vou mais pela estupidez...
ResponderEliminarObrigado Jorge. Já corrigi o "lapsus murteirensis".
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