De entre as fábulas de
Esopo a que menos me agrada é a da formiga e da cigarra. Como se fazer repercutir
um címbalo 300 a 900 vezes por segundo para atingir 120 decibéis não fosse
trabalho.
A cigarra faz-nos
lembrar as tardes de verão onde apetece ir para a rua comer talhadas de melancia
e pão de ló ensopado em malvasia. As formigas, essas são sempre a parte chata
de um pic-nic, muito semelhantes àqueles que torcem o nariz e franzem o
sobrolho às tolerâncias de ponto pelo carnaval.
É o carnaval festa antiga,
anterior à nacionalidade e aos burocratas que querem decidir se deve ou não o
Povo celebrar o fim do Inverno na alegria da promessa de dias melhores. O riso
afugenta o mal e o medo da morte que se sabe inevitável. O Homem é o único animal que ri; afirmou Aristóteles que conhecia
do assunto, e Umberto Eco acrescenta que o riso liberta o aldeão do medo do
diabo.
Percebe-se assim que não
seja festa grata aos poderes instituídos, mancomunados com o mafarrico e que
gostam de ver o Povo acorrentado aos seus medos.
Amanhã começa a Quaresma
a lembrar a finitude, e eu que gozei o Entrudo enroscado em mantas não
precisava das Cinzas para mo lembrar, que o corpo dorido e febril disso se
encarregou. Gripe, disse a doutora do centro de saúde onde não houve tolerância
de ponto.
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