terça-feira, 4 de março de 2014

TOLERÂNCIA DE PONTO

 

De entre as fábulas de Esopo a que menos me agrada é a da formiga e da cigarra. Como se fazer repercutir um címbalo 300 a 900 vezes por segundo para atingir 120 decibéis não fosse trabalho.

A cigarra faz-nos lembrar as tardes de verão onde apetece ir para a rua comer talhadas de melancia e pão de ló ensopado em malvasia. As formigas, essas são sempre a parte chata de um pic-nic, muito semelhantes àqueles que torcem o nariz e franzem o sobrolho às tolerâncias de ponto pelo carnaval.

É o carnaval festa antiga, anterior à nacionalidade e aos burocratas que querem decidir se deve ou não o Povo celebrar o fim do Inverno na alegria da promessa de dias melhores. O riso afugenta o mal e o medo da morte que se sabe inevitável. O Homem é o único animal que ri; afirmou Aristóteles que conhecia do assunto, e Umberto Eco acrescenta que o riso liberta o aldeão do medo do diabo.

Percebe-se assim que não seja festa grata aos poderes instituídos, mancomunados com o mafarrico e que gostam de ver o Povo acorrentado aos seus medos.

Amanhã começa a Quaresma a lembrar a finitude, e eu que gozei o Entrudo enroscado em mantas não precisava das Cinzas para mo lembrar, que o corpo dorido e febril disso se encarregou. Gripe, disse a doutora do centro de saúde onde não houve tolerância de ponto.



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