sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A DEMOCRACIA DA FALÁCIA E DO OXÍMORO

Que resposta devo dar a quem se predispõe a receber em sua casa uma criança abandonada?
Dividir as pessoas em homossexuais e heterossexuais é, para além de absurdo, estúpido, e a fobia à estupidez é talvez a única de que sofro. Desta estupidez sofrem tanto straights como gays. Gore Vidal, que não perdia uma oportunidade de aparecer na televisão ou de fazer sexo (independentemente do género), ia mais longe e afirmava que existiam não pessoas, mas actos homossexuais e actos heterossexuais.
Este absurdo resulta de outro que é julgar-se um homossexual incapaz de actos heterossexuais ou que um heterossexual jamais se divertiria na ilha de Mikonos ou de Lesbos. Um pouco de cultura histórica, científica ou simplesmente maior atenção ao que se passa à nossa volta, poria a nu o absurdo.
Tudo isto para dizer que a Lei, ou a sociedade, não devia nem sancionar nem interditar, a forma como as pessoas escolhem os/as parceiro(a)s de cama. É um assunto em que o Estado não devia intervir. E o casamento?
O casamento só faz sentido se pressupor à partida a constituição de uma família. Devia então a Lei, a meu ver, consagrar através do casamento única e exclusivamente a união entre um homem e uma mulher. Não por razões de ordem moral (a moral na cama faz tanta falta como uma viola num enterro) mas porque essa união é naturalmente necessária à procriação e, por isso, elemento fundador das sociedades humanas, merecendo especial protecção do Estado e da sociedade.
Todas as formas de constituir as sociedades humanas, e os seus paradigmas, podem ser alterados. Não há nisso nada de sagrado, no entanto, qualquer mudança desses paradigmas devia obrigar a que todos se pronunciassem, porque a todos interessa. Fazia então sentido um referendo. Não foi assim entendido, e em nome de uma igualdade que não estava posta em causa aprovou-se uma Lei que equipara uniões do mesmo sexo ao casamento com a nuance de não poderem adoptar. Onde não havia desigualdade passou a haver a diferença. Os argumentos falaciosos sobre a igualdade e o horror ao epíteto de homofóbico falaram mais alto.
Agora uma maioria parlamentar, em violação das mais elementares regras democráticas (exigir à força a alteração de um sentido de voto não é democracia), entende que deve perguntar aos cidadãos se esses casais podem adoptar. Então não são casais? Não pressupõe o substantivo a constituição de uma família? Então para mexerem com um dos fundamentos de toda a sociedade, e para retirarem ao meu casamento um determinado valor, não quiseram ouvir-me, querem agora, com o custo de milhões, ouvir-me sobre se crianças abandonadas podem ou não ser adoptadas por casais que as querem criar com todo o afecto que merecem?
É caso para dizer: VÃO-SE CATAR!


2 comentários:

  1. O seu último parágrafo, diz tudo!...
    Mesmo assim "eu penso" que eles irão escolher, aquele pequenino de olhos azuis e cabelo louro..., ele é tão giro, tão querido...

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  2. É sempre assim neste velho rectângulo luso, sempre que a economia melhora lá se criam formas de estragar dinheiro (como se o referendo fosse de graça).

    Economias à parte a dúvida é sempre a mesma: mas para que raios serve uma Assembleia da República que não legisla o que está na sua competência? Não seria melhor ter-se feito um referendo ao programa de ajustamento? E à moeda única? e a tantos outros assuntos, esses sim fracturantes na sociedade?

    Nao querendo divagar em demasia a certeza é cada vez maior, o povo (leia-se uma parte) está mais preocupado em recear que lhe vão ao anús, do que na felicidade das crianças. Concordo plenamente com a questão legal, se todos se podem unir (não escrevi casar de propósito) porque é que não podem ter os mesmos direitos?

    Oh santa hipocrisia.

    Isto só lá vai com uns estilhaços de loiça das Caldas. Falos para alguns, licores para outros.

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