Têm os Braganças como mãe a bela Inês Peres, filha de
Pêro Esteves, um judeu da Guarda. Veio assim a restauração pela mão de um neto
de Abraão e de uma filha de espanhóis. É que são portugueses quem luta por nós
e não contra nós!
Então quem somos afinal?
Somos filhos de Tubal, que era filho de Jafet, neto
de Noé. Iberos nos chamaram como os da pátria Georgiana do longínquo Cáucaso
onde encalhou a arca. Somos portanto sobreviventes…
Fomos Celtas, outros filhos de Jafet, e conhecemos gregos
e fenícios que confundiam o Mediterrâneo com os estuários do Tejo e do Sado.
Contra os filhos de Eneias, o Troiano, lutamos até à
morte pois quando Sertório, general romano, ergueu a espada lusitana, já éramos
tão romanos como ele.
Os reis Suevos de Braga confundiam o Minho com o Elba
e o Oder, e no Zêzere chorava o godo Wamba as saudades do Danúbio, enquanto no
Tejo se passeava o mouro elegante e belo que lhe seduzia as mulheres.
Depois fomos ao mundo e o mundo voltou a nós, e os
filhos da Etiópia e do Congo encheram os salões desde Évora a Lisboa.
E o Viriato?
O Viriato é um velho conhecido que encontro por
vezes, abismado, junto à estrada da Beira, que não compreende o suevo minhoto
nem o mouro algarvio. É um espectro, uma ilusão, porque ser português é ser o
mundo inteiro, e eu…
… eu e Afonso Henriques caçamos dragões wagnerianos
na Burgúndia de seus avós.
… eu oiço bourrées
de Bach na chotiça da Estremadura e nas danças de roda do Minho.
… eu e Tomás de Aquino rezamos juntos à Senhora
d’Agonia.
… eu e Petrarca encontramo-nos pelo sereno da tarde no
Camões.
… eu e a rainha Ginga trocamos juras de amor na
língua de Pessoa, comendo cachupa na
Brandoa.
… eu e o cacique Tupinambá falamos do barroco do Aleijadinho num terreiro de candomblé,
no Monte da Caparica.
… eu medito com o guru Pantadjáli num ashram da
Mouraria.
… e eu, nos tugúrios chineses do ópio, sonho como
Pessanha esperando ver florir por engano
as rosas bravas.
E Viriato?...
…
Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na
antemanhã, confuso nada. (in Mensagem de F. Pessoa)
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