Quando visitei o museu de Orsay percebi a razão do
escândalo do quadro de Manet. Aquela mulher nua entre homens vestidos, no meio
de um piquenique num bosque, olhando-nos desafiante, ainda hoje perturba pelo
despautério de nos encarar assim, burgueses bem comportados. Conta-se que na
época, a imperatriz fingiu um desmaio e o imperador, o mesmo que anos antes
tinha perguntado à jovem Eugénia de Montijo qual o caminho mais curto para o
seu quarto, pergunta que o obrigou a passar pela capela para fazê-la imperatriz,
achou aquilo escandaloso. Mais tarde, em Portugal, António Nobre deixava-se
também encantar pelos piqueniques de Verão no bosque.
À falta de imperatrizes capazes de se escandalizarem,
Nobre, entre talhadas de melancia, damascos e pão de ló embebido em malvasia,
encantava-nos com burguesas em burricos que metiam ramalhetes de papoilas entre
os seios.
Os Verões eram, assim, artisticamente apatetados.
Hoje são só patetas. Uma senhora do jet-set, daquele jet-set que assopra a
espuma do champanhe, diz que no verão brinca aos pobrezinhos e parece muito
contente. Eu, que levo a pobreza muito a sério, invejo-lhe a alegria, porque às
vezes, quando tento brincar aos ricos, a ansiedade pela chegada iminente da
factura retira à brincadeira toda a graça.
Para comprovar a patetice do Verão, soube agora que o
tribunal cancelou a execução do cão zico, condenado pela morte de uma criança.
A dirigente da associação Animal, que vai recolher o bichinho, está eufórica a
brincar à liberdade e comparou a prisão do bicho à de Mandela, vai daí
rebaptizou o zico que agora passa a chamar-se mandela.
Razão tinha a minha mãe quando me obrigava a usar
chapéu no verão. É que na falta de cobertura dos miolos, estes correm o risco de
esturricar.
Sabes João que eu agora também uso chapéu pois tenho mesmo muito medo de ficar sem eles(os miolos), gostei da tua escrita.
ResponderEliminar