Ricardo
Robles é um homem bonito. Com nome a lembrar heróis da guerra de África. E é do
Bloco. Uma fofura. Talvez seja o que explica as dolorosas cenas que no espaço
de um dia fui obrigado a assistir: dirigentes femininas do Bloco e uma
escritora, inflamando-se a defendê-lo do ataque insano dos jornalistas de
economia que, como todos sabem, são de direita.
A
nenhuma vi explicar ao moço a catequese que se ensina nos acampamentos de verão
do Bloco: “Direito à boémia: Necessidade de vida noturna para produção e
radicalização cultural“; “Desobediência Civil”; e a mais interessante: “A
propriedade é o roubo: socialização dos meios de produção”.
A
nenhuma delas vi perguntar ao moço de belos olhos por que razão, sendo na
altura deputado municipal por Lisboa, não arengou na sessão contra o esbulho do
património imobiliário do Estado que só estando nas mãos do Estado pode escapar
à lógica da especulação imobiliária, porque é imoral e injusta, opiniões que
partilho com o Bloco, ou não levou à letra os ensinamentos do
Bloco e não acampou às portas da Segurança Social com um grupo de escuteiros do
último acampamento bloquista para impedir a agora famosa hasta pública, em
treino de desobediência civil. Em vez disso comprou por tuta e meia aquilo que
já se sabia valer um dinheirão.
Agora,
depois de gastar quase um milhão, só lhe restam três coisas: Vender pelo valor
do mercado e ficar milionário e sem alma; vender a um preço justo que lhe
devolva o investimento gasto e um lucro moralmente legítimo mas deixar que
outros depois vendam por cinco vezes mais, ficando com cara de totó; ou
arrendar àqueles que sempre habitaram Alfama, que são a sua alma, e que
construíram ao longo dos séculos a sua fama e peculiaridade que agora atrai
gulosos especuladores. Ao fazê-lo, arrendar a preços populares, fará o que
durante muito tempo algumas famílias fizeram: empatar capital e esperar pelo
seu retorno durante anos. Coisa que nunca veio porque Salazar manteve as rendas
congeladas pela 1ª república (Salazar não alinhava com a especulação, tal como
o Bloco).
Eu, que
ao contrário das moças do Bloco e escritoras românticas não me comovo com os
belos olhos do senhor vereador, deixo-lhe uma ideia, já que os problemas
familiares o impedem de empatar capital. Venda! Para não cair na teia da
especulação, arranje uma cooperativa que lhe devolva o dinheiro gasto e mais um
apartamento e mais outro para a mana, e venda o resto a preços justos para
famílias com filhos (quero ver Alfama cheia do chilrear de garotos a pedir
tostões pelo Santo António), com uma cláusula no contrato que impeça a venda
especulativa pelo menos por vinte anos. Com certeza haverá advogados no bloco
que lhe possam explicar como se faz. Talvez o irmão do outro vereador Fernandes
que é como a dona Constança: não há festa nem festança que lá não esteja, lhe
possa escrever o contrato. E depois vá passear os lindos olhos pelos arraiais
para ouvir os pregões que as moças casadoiras lhe irão lançar: “ai que
santinho, minha nossa senhora”.
E assim continua com os olhos bonitos e o problema resolvido. Boa sugestão.
ResponderEliminarÉ o que eu, sinceramente, e sem ironia, faria, mesmo não sendo do Bloco.:)
EliminarOs cães ladram e a caravana passa, ou como se diz por cá, pratos com defeito não deixam de ser pratos. O azar do senhor Robles é de ser vereador do Bloco de Esquerda, caso contrário seria apenas mais um a ganhar, seja com especulação ou não, já que quem tiver dinheiro que lhe pague o que quiser.
ResponderEliminarA loiça é outra mas o barro é sempre o mesmo.
A especulação imobiliária em cidades consolidadas e antigas como o caso de Lisboa, com efeitos de gentrificação, é, no meu entender, um crime e um roubo daquilo que é e deveria ser público. O crime começa com o Estado a lançar no mercado especulativo o seu património imobiliário. O Sr. Robles é só mais um dos que vende a alma ao diabo, esquecendo-se de que somos feitos de barro…!!! :)
EliminarO especulador, que contra a especulação (dos outros) lutava, já resignou, provavelmente para abrir uma imobiliária. Bem aja.
ResponderEliminarÉ como digo. Ficará rico mas sem alma. Bem haja por comentar.
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