Quando
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente eleito da república portuguesa se curvou
perante a rainha de Inglaterra, eu não gostei. Sendo eu um grande admirador da
pessoa de Elizabete II e que nutro simpatia q.b. pelo regime monárquico, não
gostei, no entanto, de ver o representante de uma nação curvar-se perante a
representante de outra nação. Pela
mesma razão me senti ofendido com a birra malcriada dos deputados do Bloco de Esquerda quando se recusaram conceder um gesto de respeito e consideração pela
nação espanhola, convidada da nação portuguesa, nas pessoas dos seus
representantes. Que não alinham em poderes baseados no nascimento, disseram,
esquecendo que Filipe VI não tem poderes para além da representação de um Povo
que o é, tal como o rei, baseado na circunstância do nascimento dos que o
constituem.
Os
deputados do bloco, cujo lugar na casa de uma república nunca referendada com
uma constituição também ela não referendada, lhes foi concedido por 10.18% dos
votos expressos, ou sejam, 550 945 votos, esqueceram que o rei de Espanha tem a
sua legitimidade de representação (e não de poder) no voto expresso por 88.54%
dos eleitores espanhóis que referendaram a constituição que previa o regime
monárquico, num total de 15 706 078 votos. Esqueceram, por exemplo, que todos
os actos do rei são referendados pelo presidente do governo, ou pelo presidente
do congresso ou, imagine-se por um ministro que, ao contrário dos antecedentes,
não é eleito. Coisa diferente aconteceu em Cuba que, sendo república, seguiu
uma transição de poder de estilo monárquico sem qualquer referendo ou votação e
sem que beliscasse o sono dos revolucionários portugueses.
Esqueceram-se
assim os deputados do Bloco que somos nação por nascimento daí o simbolismo da
figura de um rei. É essa circunstância de nascimento que nos permite votar, ao
contrário de um estrangeiro que aqui viva, trabalhe e pague impostos. Foi a
circunstância de termos nascido em Portugal que nos faz portugueses e que nos
impede de votar para sermos espanhóis, por exemplo, porque tal vontade está
proibida pela constituição portuguesa. A nossa vontade de ser ou não desta
Nação está vedada. É por isso que hoje comemoramos o 1º de Dezembro, dia da
restauração da independência. Porque nascemos em Portugal ou de pai ou mãe
portugueses.
O dia da
restauração da independência não aconteceu por vontade expressa das populações,
mas por vontade de uma elite que pôs no poder o representante dos Braganças,
família que D. João II tanto combateu ao ponto de condenar à morte, 150 anos
antes, o duque de Bragança do tempo, porque o impedia de prosseguir políticas
de engrandecimento da nação e da defesa da população explorada pelos
privilégios das elites portuguesas. Talvez por isso, o duque de Bragança feito
rei, como modo de redimir os erros dos antepassados, tenha entregue a Nação ao
cuidado de Nossa Senhora da Conceição entregando-lhe a coroa de Portugal.
Não faço
ideia o que pensam sobre a protecção de Nossa Senhora, os que hoje comemoraram
e discursaram no largo dos Restauradores (parece que há por aí uns pândegos que
querem que o Papa não venha cá prestar homenagem àquela que é rainha de
Portugal por força da circunstância de ter havido o 1º de Dezembro, porque eles
não acreditam que, sendo rainha, apareça ao Povo em cima das árvores). Sei,
contudo, que um senhor que não conheço, disse no seu discurso que sem o 1º de
Dezembro de 1640 não teria havido o 25 de Abril. E eu, lembrando o Tarrafal, a
censura e a PIDE, pus-me a pensar com os meus botões que bom seria não ter
havido razões para o 25 de Abril.
Assim
vai a indigência do pensamento das nossas elites e deputados, o que me leva a
desejar uma nova restauração das mentalidades presas aos arquétipos
revolucionários de um romantismo serôdio retirado do baú do século XIX.
E assim se mantém uma "geringonça", com o apoio de cacos de má cerâmica, embora corra o risco de chamar nomes feios à cerâmica nacional.
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