Na singular conexão entre Isaías 1,3;
Habacuc 3,2; Êxodo 25,18-20 e a manjedoura, aparecem os dois animais como
representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que,
diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao
conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a
todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo.
Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento – Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de
Nazaré: a infância de Jesus, Cascais, Principia, p.62
Há uns
natais atrás, escrevi uma crónica brincando com a suposta vontade do Papa Bento
XVI em retirar o burro e a vaca do presépio. A pretensa notícia não era mais do
que mau jornalismo que cada vez mais vai sendo comum. Para honrar aquele grande
Papa, decidi começar por citá-lo, precisamente sobre a representação simbólica
daqueles animais no mistério da Natividade.
O Natal
é cheio de significado simbólico, onde a tradição religiosa pagã se mistura,
com todo o à vontade, à tradição judaico/cristã, como em nenhuma outra festa
cristã. O facto deve-se a ter-se feito coincidir a celebração do Natal com as
festas do solstício de Inverno, quando acontece a noite mais longa do ano, para
depois o Sol começar a subir no horizonte alargando os dias e vencendo as
trevas. Surge assim Cristo como alternativa à divindade romana invicti Sollis.
Porque
este ano me tornei avô de uma menina maravilhosa, lembrei-me de dar aqui
testemunho de uma velha crença de Natal inglesa que a minha avó materna,
sul-africana de origem inglesa, nos contava com toda a certeza no olhar,
acreditando piamente no que dizia, não titubeando sequer quando a filha, a
minha mãe, a confrontava perguntando-lhe se tal tinha visto, uma vez que se
criara no campo. A lenda que minha avó nos contava está relatada num livro: The
book of Days, de Robert Chambers, que afirma ser uma crença típica da região de
Devon e da Cornualha, na Inglaterra.
Contava-nos
a avó perante o nosso pasmo admirado e crédulo, que à meia-noite em ponto da
véspera de Natal, o gado de todo o mundo se ajoelhava nos estábulos, em louvor
do menino que nascera junto deles. Nós, meninos da cidade, mordíamos o lábio
perante o sentimento de uma raiva surda, imprópria da época, por não termos a
oportunidade de correr a um estábulo para nos maravilhar com o milagre, mesmo
sabendo que a meia-noite de serões onde não havia televisão, não eram
apropriadas para deslocações fora de casa.
É sempre
com grande ternura, lembrando a lenda da avó, que coloco no presépio as figuras
da vaca e do burro bem junto do menino, enquanto José e Maria mais afastados
tentam perceber o que aqueles animais sem compreensão, tal como as crianças,
entenderam tão bem.
Gostei da lenda, essa não conhecia.
ResponderEliminarNatal é isto, doces e saudosas lembranças.
Todos nós temos nem que seja só uma boa memória dos Natais da nossa meninice.
É verdade, Manuela. Quanto mais não seja a lembrança da nossa capacidade de nos maravilharmos com as lendas e crenças.
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