Há dois anos o governo mandava-nos emigrar e eu, face ao deserto de ideias de então, escrevi um post onde falava de um paraíso perdido no Pacífico, que eu tinha "descoberto": Vanuatu. Esse paraíso foi agora devastado por um violento temporal e os seus habitantes sofrem a fúria dos deuses que expulsam os homens dos paraísos.
Terá sido por isso que o governo manda agora que regressem os emigrantes?
A minha sentida homenagem ao país que foi o mote deste meu post em Março de 2013.
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O povo saiu à rua
para protestar sem conseguir que os habitantes de Belém saíssem do coma, o Papa
bateu com a porta, a rainha inglesa (tia Belinha para os amigos) esteve doente,
o Juan Carlos foi operado a uma hérnia e Hugo Chavez calou-se para sempre. É
bem o sinal de que os Maias tinham razão e o mundo acabou mesmo, no passado mês
de Dezembro e, como as ervas daninhas após a passagem do roundup ultra, só passado algum tempo começaremos a secar e a
minguar de vez. Esta a razão porque não vejo que valha a pena aprofundar muito
qualquer dos temas e me tenha entretido a ler os Diários da República. Podia
dar-me para pior, eu sei.
Foi assim que há dias
tomei conhecimento, através de um aviso assinado por um director de serviços
com o poético sobrenome de Fins do Lago,
que a república do Vanatu tinha aderido à convenção de Berna para a protecção
das obras literárias e artísticas. Foi com grande satisfação que tomei
conhecimento do facto e como ninguém é suficientemente ignorante quando tem a
wikipedia por perto, é com profunda alegria que vos dou notícia desta república
com nome tão simpático.
A alegria ficou logo
ensombrada por o senhor Fins do Lago, ou alguém por ele, ter roubado uma vogal
ao nome do convencionado país, que se chama Vanuatu e não Vanatu como
escarrapacharam no Diário da República, isto num país onde se dá tanta
importância a preposições e contracções. Razão teve o Presidente em se queixar
deste periódico que está por um fio de se transformar num pasquim.
Vanuatu é um paradisíaco
arquipélago logo ao lado da Austrália, com vista para o Pacífico. Colonizado
por gente de mau gosto, foi-lhe dado o nome de Novas Hébridas, a lembrar geleiras
do Norte, com total desprezo pelo seu descobridor, um tal Fernandes de Queirós,
português ao serviço de Espanha, que chamou a uma das ilhas Espiritu Santo, que
sempre trazem à memória as aves do paraíso. Fala-se inglês e francês, tal
Canadá tropical, e o seu hino chama-se Yumi, Yumi, Yumi: é ou não é uma
delícia?
Por religião
adoptaram várias, mas a mais curiosa é a que tem por ídolo um soldado americano
da 2ª guerra mundial de nome John Frum, e não me vereis a mim, católico
venerador de um carpinteiro crucificado, franzir o sobrolho: acreditam que
construindo aviões de bambu, tornarão a cair bens de consumo como outrora caíam
dos aviões militares americanos. Já vos vejo sorrir mas não vos esqueçais que nós
também acreditamos que, expulsando três demónios que nos visitam com a
regularidade de um relógio suíço, o leite e o mel voltarão a escorrer. Chama-se
a isso “wishful thinking”.
Outros ainda cultuam
o príncipe Filipe, marido da tia Bélinha, porque a figura encaixa numa profecia
das suas lendas. Tivesse havido nevoeiro no Tejo, naquela manhã de 1957 quando
o casal real nos visitou, e estaríamos agora a disputar com os Vanuatenses o
seu ídolo.
Com abundância de
papaias, ananases e batata doce, não há fome e evitam os fritos.
Não sei o que pensam,
mas por mim acho um rico sítio para emigrar.
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