domingo, 15 de março de 2015

EMIGREMOS, REGRESSEMOS, E UM PARAÍSO DEVASTADO POR UM CICLONE

 Há dois anos o governo mandava-nos emigrar e eu, face ao deserto de ideias de então, escrevi um post onde falava de um paraíso perdido no Pacífico, que eu tinha "descoberto": Vanuatu. Esse paraíso foi agora devastado por um violento temporal e os seus habitantes sofrem a fúria dos deuses que expulsam os homens dos paraísos.
Terá sido por isso que o governo manda agora que regressem os emigrantes?
A minha sentida homenagem ao país que foi o mote deste meu post em Março de 2013.
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O povo saiu à rua para protestar sem conseguir que os habitantes de Belém saíssem do coma, o Papa bateu com a porta, a rainha inglesa (tia Belinha para os amigos) esteve doente, o Juan Carlos foi operado a uma hérnia e Hugo Chavez calou-se para sempre. É bem o sinal de que os Maias tinham razão e o mundo acabou mesmo, no passado mês de Dezembro e, como as ervas daninhas após a passagem do roundup ultra, só passado algum tempo começaremos a secar e a minguar de vez. Esta a razão porque não vejo que valha a pena aprofundar muito qualquer dos temas e me tenha entretido a ler os Diários da República. Podia dar-me para pior, eu sei.

Foi assim que há dias tomei conhecimento, através de um aviso assinado por um director de serviços com o poético sobrenome de Fins do Lago, que a república do Vanatu tinha aderido à convenção de Berna para a protecção das obras literárias e artísticas. Foi com grande satisfação que tomei conhecimento do facto e como ninguém é suficientemente ignorante quando tem a wikipedia por perto, é com profunda alegria que vos dou notícia desta república com nome tão simpático.

A alegria ficou logo ensombrada por o senhor Fins do Lago, ou alguém por ele, ter roubado uma vogal ao nome do convencionado país, que se chama Vanuatu e não Vanatu como escarrapacharam no Diário da República, isto num país onde se dá tanta importância a preposições e contracções. Razão teve o Presidente em se queixar deste periódico que está por um fio de se transformar num pasquim.
Vanuatu é um paradisíaco arquipélago logo ao lado da Austrália, com vista para o Pacífico. Colonizado por gente de mau gosto, foi-lhe dado o nome de Novas Hébridas, a lembrar geleiras do Norte, com total desprezo pelo seu descobridor, um tal Fernandes de Queirós, português ao serviço de Espanha, que chamou a uma das ilhas Espiritu Santo, que sempre trazem à memória as aves do paraíso. Fala-se inglês e francês, tal Canadá tropical, e o seu hino chama-se Yumi, Yumi, Yumi: é ou não é uma delícia?
Por religião adoptaram várias, mas a mais curiosa é a que tem por ídolo um soldado americano da 2ª guerra mundial de nome John Frum, e não me vereis a mim, católico venerador de um carpinteiro crucificado, franzir o sobrolho: acreditam que construindo aviões de bambu, tornarão a cair bens de consumo como outrora caíam dos aviões militares americanos. Já vos vejo sorrir mas não vos esqueçais que nós também acreditamos que, expulsando três demónios que nos visitam com a regularidade de um relógio suíço, o leite e o mel voltarão a escorrer. Chama-se a isso “wishful thinking”.
Outros ainda cultuam o príncipe Filipe, marido da tia Bélinha, porque a figura encaixa numa profecia das suas lendas. Tivesse havido nevoeiro no Tejo, naquela manhã de 1957 quando o casal real nos visitou, e estaríamos agora a disputar com os Vanuatenses o seu ídolo.
Com abundância de papaias, ananases e batata doce, não há fome e evitam os fritos.
Não sei o que pensam, mas por mim acho um rico sítio para emigrar.


 


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