quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

NAQUELE TEMPO...

Micro contos II

NAQUELE TEMPO


Quando os netos faziam-lhe a cabeça em água, gritava que eram rabinos e que só sabiam judiar dela.
Quando o marido lhe pedia o almoço resmungava que não era a deusa dos mil braços.
Quando o filho lhe entrou em casa, magro e desmazelado, com a barba por fazer, gritou-lhe: Pareces mesmo um Cristo, c’um raio. Vai cortar essa barba, alma do diabo.
Quando decidiu pôr-se ao caminho para enfrentar a nora, pensava com os seus botões: Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha ao Maomé. E quando a encontrou disse-lhe o que o profeta não disse do toucinho!
Quando morreu sufocada com um bocado do chouriço do cozido ninguém estranhou. Foi no tempo longínquo em que os terroristas eram todos católicos ou protestantes e não saíam da Irlanda.

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