Há horas do diabo, diz
o povo e tem razão. Quando o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono
imperial austríaco, visitava Sarajevo com a sua mulher, três bombas esperavam o
príncipe. O primeiro anarquista não conseguiu atirar a sua bomba e o segundo
também não. Só o terceiro conseguiu mas falhou o alvo. A bomba bateu no carro e
foi explodir sob o carro que seguia atrás. Salvou-se o príncipe e a mulher mas
a mesma sorte não tiveram vinte pessoas que ficaram feridas. Parecia que um
anjo bom protegia o príncipe salvando-o por três vezes.
Francisco Fernando
resolveu visitar de imediato os feridos no hospital e deu ordem ao motorista
para deixar o itinerário combinado. Este, perturbado, virou na rua errada. Ao
dar-se conta parou o carro e manobrou para voltar de novo à rua de onde saíra.
Tarde demais. À sua frente encontrava-se Gravilo Pincip, um jovem estudante e
anarquista sérvio da Bósnia, que ansiava pela Grande Sérvia englobando os povos
dos Balcãs. Ao ver o herdeiro do trono à sua frente não hesitou e matou-o a
tiro, fazendo o diabo sorrir. Um mês depois a Áustria declarava guerra à Sérvia
e a Rússia, aliada da Sérvia, declarou guerra à Áustria.
Três primos direitos
que passavam as férias de Verão juntos, netos da Rainha Vitória, decidiram-se, naquele
ano, por um Verão diferente. O Kaiser alemão desafiou o Czar russo, marido da
sua prima, para o combate, e o rei inglês, primo do Kaiser, aborreceu-se com
este e foi em defesa da czarina, sua prima. O Sultão turco, de olho nos Balcãs,
vendo os primos à chapada, decidiu participar. Todos perderam excepto o rei
inglês que obteve uma vitória de Pirro, tornando-se súbdito americano.
Comemora-se este ano o
centenário daquela tragédia. Depois de nove milhões de soldados mortos, a queda
de quatro impérios, uma Europa em ruínas e sujeita a uma crise económica terrível
que a lançaria na segunda guerra, a Bósnia de Gravilo continua a não pertencer
à Sérvia e esta perdeu parte do seu território enquanto o povo dos Balcãs lambe
ainda as chagas de uma guerra fratricida terrível.
Gravilo Princip era
anarquista e nacionalista, uma contradição nos termos. Não gostava do civilizado
império onde vivia que não permitia a sua condenação à morte por ter dezanove
anos de idade. Com o seu acto ajudou a construir o fascismo na Europa, abriu as
portas ao nazismo e ao estalinismo e condenou à morte milhares de crianças.
Cem anos depois, a
Europa continua a sofrer dessa maldita doença chamada nacionalismo.
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