No meio de protestos, a favor e contra, foram as
gaivotas da Argentina condenadas à morte ou, em alternativa, à esterilização,
pelo crime nefando de ataque a baleias indefesas contra bombardeamentos aéreos.
Tudo porque as gaivotas atacam do alto e à vista de todos, não seguindo o
exemplo das baleias que devoram, no segredo das profundezas dos oceanos,
milhares e milhares de sardinhas, numa orgia de romaria em noite de Santo
António. Fosse ao contrário, as sardinhas comerem baleias, e não seria tão mau,
como já pregava o padre António Vieira: uma baleia saciaria muitas sardinhas,
ensinava o bom do jesuíta.
Também por cá vimos tomadas de posição idênticas,
quando defensores dos répteis levantaram brado contra as aves marinhas por estas
atacarem aqueles rastejantes antes que alcançassem buraco salvador. No mundo
animal, como nos homens, anda a Justiça do lado dos grandes e dos que rastejam.
As pobres e populares sardinhas, ou as aves que gritam liberdade não têm quem
as defenda.
Talvez por isso uma gaivota tenha ido sobrevoar o
centro do mundo indo poisar numa minúscula e singela chaminé. Do alto do tubo,
altiva e serena, olhou o povo que vigiava o céu na esperança de ver, por ténue
que fosse, o esvoaçar de uma pomba. Desconhece a plebe inculta que o Espírito
toma a forma que lhe convém e entre a pomba do Jordão, o corvo de Noé, a águia
de Zeus ou o cisne de Leda, há todo um catálogo ornitológico por onde escolher.
Em tempo de falcões a pomba pareceria desajustada e
cisnes apreciam águas paradas e langores eróticos. Uma gaivota, pensou então,
com o seu bico recurvo e aguçado, capaz de atacar baleias e devorar répteis,
com desprezo por gaiolas douradas, rasando o alteroso oceano para prover ao
sustento, e mediando entre o Céu e a Terra entoando gritos de liberdade, seria
a metáfora ideal. E as suas irmãs argentinas voaram em círculo, orgulhosas
daquela gaivota que poisara sobre o capelo da chaminé na capela mais famosa do
centro do mundo.
E fez bem: quando um traço luminoso
foi riscado no céu, mostrando que a irmã Lua, abandonava o orgulho de uma Nova
para se deixar acariciar pelo irmão Sol que a irá emprenhar, a gaivota voou e
logo se moveram baleias e répteis a protestar e a aviltar, receando o seu bico
recurvo e afiado. Somos todos irmãos, disse Francisco, o
protector dos animais; todos irmãos.
Pois está bem, pensou a gaivota, mas assim como assim,
um bico recurvo e forte dá jeito para ensinar os caminhos da paz aos irmãos.
Li pela segunda vez para poder interiorizar tão belas palavras mas agora com companhia de mais duas pessoas que gostaram e te deram os parabens porque realmente meu irmão tu na verdade tens um dom ou não fosses chamado Francisco
ResponderEliminarObrigado. Quanto ao nome já estou habituado. Afinal só Papas Joões são 25, e agora este Francisco. O meu gato xico é que já não parece o mesmo, de inchado que está.
Eliminar