Que tardes aquelas quando soprava a brisa fresca que
acalmava o ardor do estio! Nela viajava o odor das laranjas que amadureciam no
pomar, e dos pêssegos, e dos ananases…e o Senhor, que passeava no jardim do
Éden, fechava os olhos e aspirava, embevecido, deixando que a hera se
encaracolasse nos cabelos e o loureiro lhe coroasse a fronte, enquanto a
abelha, de estômago cheio do néctar das figueiras, vinha aprender no doce dos
seus lábios o fabrico do mel. Então o Senhor, com um gesto largo da divina mão,
mansamente a afastava e retomava o passeio.
Ao longe, sob a cúpula das glicínias assente nas
colunas de ciprestes, templo monóptero de jardim, ouviam-se os anjos tocar, ritmando
o passeio. O homem e a mulher “Ouviram,
então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde…(Gn 3,8). Ouviram o Senhor que
afinava o rouxinol enquanto desistia da cigarra que, receando desafinar, ronquilhava a mesma estridência sem
cessar. Por isso lhe escutaram a voz, se assustaram e se
esconderam. E o Senhor, que passeava pela brisa da tarde, franziu o nariz ao
cheiro daquele medo.
Desde então, desde que o cheiro do medo inundou a
brisa que corria no jardim, o homem e a mulher não cessam de tentar recriar a
harmonia dos anjos, na esperança que o Senhor volte a passear… pela brisa da
tarde.
O meu comentário já te dei mas volto a dizer tão bela a tua meditação acompanhada pela musica tão suave
ResponderEliminarObrigado. A música foi de facto a origem desta reflexão, e a frase do Génesis ajudou. É sempre bom ouvir Deus na brisa da tarde.
EliminarBelíssimo, com o estilo e o nível que já lhe conhecemos. Um orgulho tê-lo por "colega", se assim posso dizer... :)
ResponderEliminarObrigado.
EliminarLindo!
ResponderEliminarDe facto a música á inspiradora!
Lena Arroz
Obrigado, Lena. A música de Bach em especial.
EliminarE a fotografia? Onde é o paraíso?
ResponderEliminarAna Margarida Brandão
Ana, a foto é tirada dos jardins à volta da muralha do Alhambra, com a serra Nevada ao fundo, coberta de neve. Quer o Alhambra, quer o Generalife, são autênticas recreações do Éden.
ResponderEliminarPois claro que são, os árabes sabiam o que faziam! Obrigada pela fotografia, pela música e pelo texto!
EliminarAna