domingo, 29 de julho de 2012

MENINA E MOÇA ME LEVARAM...


Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha.
Início de “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro

Soube agora que a nossa primeira novela acabou de ser traduzida para o inglês, como o foi há nove anos para o francês. Não faço ideia da dificuldade em traduzir este nosso clássico renascentista, mas 450 anos é muito tempo. Isto diz muito da indigência de quem tem administrado a cultura no nosso país. O mal é antigo…
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=574563&tm=4&layout=121&visual=49

5 comentários:

  1. Não dramatizes. Ainda à pouco o José Rodrigues dos Santos chegou ao nº1 do Top de Vendas da Fnac em França. Pelos vistos é considerado o novo Dan Brown.

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    1. Mérito dele. Agora levar tanto tempo a traduzir a Menina e Moça foi demérito nosso.

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  2. Não sei se é mérito ou não. Mas vende. A Menina e Moça não sei se vende, e imagino que não seja por demérito de Bernardim Ribeiro.

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    1. A tradução de Menina e Moça não tem e não é para ter efeitos de ordem comercial. A tradução é tornar disponível um clássico a quantos o queiram ler e estudar. Por vezes basta ser lido pela pessoa certa para que isso traga muitas vantagens para o país todo. Não é um problema de vendas.

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  3. Pois não. Ou não devia ser. E o comentário ia nesse sentido. Com uma boa campanha ou bons amigos tudo se vende, e muito depressa. Era uma ironia. Será só culpa de quem administra a cultura? Têm estes de conheçer tudo sobre todas as áreas da cultura? E os académicos? E os investigadores? Acho que são esses que têm a responsabilidade de dar a conheçer, mostrar o valor dessas obras, e a pertinência da sua tradução.

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