O exame de português
do 4º ano foi um encantamento. Os miúdos, entre o ranho limpo à manga da camisa
e a emoção de estarem na escola dos grandes, assinaram atestados de honra que
nem políticos em campanha eleitoral. Estão uns homenzinhos e umas mulherzinhas
os nossos miúdos, a ler Hans Christian Andersen e a história da sereiazinha em
águas azuis como as pétalas de uma centáurea, e artigos científicos que falam de
expedições submarinas ao largo da costa portuguesa, entre anémonas cor-de-rosa
e peixes azuis escondidos em recifes de corais vermelhos (?). Tudo isto
confirmado por uma senhora, Estibaliz Berecibar (o susto que devem ter
apanhado, coitadinhos…), que se maravilhou com os corais cor-de-rosa e lilás! A
bióloga, com nome de medicamento, mostrou-se no entanto desapontada pela falta
de ouriços e estrelas-do-mar (estavam todas no Big Brother vip) e nada disse
sobre a galinha bicéfala em que se transformou o governo, julgando ser águia
imperial, nem confirmou se entre os peixinhos azuis se encontravam dragões
marinhos escondidos nos corais vermelhos das águas profundas das Berlengas.
Dizem que os miúdos andam stressados
com os exames, e as avós trazem o nome de Jesus a pipilar no tremular dos
lábios. A verdade, nua e crua, é a ansiedade em que todos andamos para saber,
no próximo Sábado, qual o lugar que devia ter sido reservado: a estátua do
marquês ou a avenida dos aliados. É que a nossa capacidade de maravilhamento
não vai além das papoilas saltitantes ou das miosótis rastejantes, tão azuis
como as belas centáureas, e quando mete águias, bicéfalas ou não, e dragões,
marinhos ou fluviais, o encantamento só termina na Alfa centauro.
Perfeito e hilariante, como sempre! :)
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