Ao ler-se
o que por aí se vai escrevendo sobre o feriado de hoje, corre-se o perigo de
ficar com a ideia que foi o papa Pio XII quem institui a festa e Salazar correu
atrás a torna-la dia feriado. Ora Pio XII tornou a história da Assunção de
Nossa Senhora (subida aos céus em corpo e alma) como dogma da igreja católica,
isto é, os católicos estão obrigados a acreditar nesse mistério, mas a festa
desta crença existe desde os primeiros tempos da Igreja. Os ortodoxos, que não
estão obrigados aos decretos do Papa, também a celebram, chamando-lhe a
dormição de Nossa Senhora, porque, de acordo com os relatos mais antigos dos
apóstolos Nossa Senhora teve uma morte serena e sem dor.
A história
da pintura europeia está cheia de Assunções de Nossa Senhora, o que demonstra
bem que esta festa é mais antiga do que o Dogma e os decretos de Salazar. Já no
século IV o bispo de Salamina de Chipre, Santo Epifânio, perante o facto de não
se encontrar Maria sepultada, admitia a sua Assunção, confirmando o que,
séculos antes, Santo Irineu (século II) admitia com base nos relatos apócrifos
dos apóstolos.
Mas é São
Gregório de Tours, no século VI, a proclamar a Assunção em corpo de Maria e
Carlos Magno, no século IX, obteve a autorização do Papa para instituir a sua
Festa.
Quiseram
assim os primeiros cristãos elevar Maria à mesma dignidade de Jesus, fazendo-a
elevada aos Céus em corpo e alma rodeada de um coro de anjos cantando a sua
Glória, como pintou El Greco e tantos outros. Em Santa Maria em Trastevere, a
mais bela igreja de Roma, lá está, nos belos mosaicos da abside, Maria, não só
à direita do Filho, mas sentada com Ele no mesmo trono.
Esqueçam,
portanto, o Salazar e a infalibilidade papal e divirtam-se. Maria subiu aos Céus
e nós temos a Esperança de o fazer. Não precisamos de dogmas para estragar a
Festa, mas a liberdade de um feriado para a fazer.
Imagem:
abside da basílica de Sta Maria in Trastevere, Roma 2015
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